Caríssimo Aniel,
 
              Aqui estou eu mais uma vez para falar de japoneses. Não se trata de especialização, preferência, mas de lições de concisão. Há dias, caminhando entre as prateleiras de livros da Livraria Cultura me detive ante  um pequeno livro, intitulado “Descabelados”, de Yosano Akiko, traduzido por Donatella Natili e Álvaro Faleiros, para a coleção “poetas do mundo”, da Editora UnB. Todo branco, tamanho de bolso, capa acetinada, agradável ao tato. É sempre a primeira leitura, para mim.

              Na apresentação aprendi que se trata de uma “série de tankas, forma poética tradicional japonesa, reinventada no inicio de século XX pela poeta Yosano Akiko”. Morta em 1962, aos 66 anos de idade. Akiko não era somente poeta, mas ativista politica, lutando pelos direitos da mulher japonesa presa ainda a costumes medievais.

               É claro, que eu já tinha conhecimento do tanka, desde a leitura de Octavio Paz e Leminski. Eu mesmo, na época, já tinha experimentado escrever um tanka, seguindo os ensinamentos desses autores. Simples exercício. Ei-lo:
                             
               Minha velha casa
               Em teia de aranha envolta.                    
               Abandonada agora.
 
               Pelas paredes úmidas
               Sobem verdes heras.
 
               A introdução diz que a poeta “rompeu brutalmente com o estilo tradicional do tanka ao inserir questões pessoais e imagens não convencionais. Algumas expressões utilizadas chegaram a levar muitos literatos da época a reagir escandalizados. Por exemplo, a menção direta aos “seios” femininos era considerada altamente ofensiva pelos leitores”.
 
               O título do livro em japonês é “Midaregami”, ou cabelos desordenados. Mas não se trata de desleixo e sim de costume. “Na época pré-moderna, uma mulher com a cabeleira levemente em desordem evocava uma imagem particularmente erótica.”

               Muito interessante, no livro, é também o estudo de Álvaro Faleiros sobre a tradução dos tankas e haicais. É uma verdadeira aula sobre esse gênero literário japonês. Origem, forma, tradução. Esse volume explica bem o dito popular de que “tamanho não é documento”. Transcrevo dois tankas de Akiko:
 
                        ele não volta                                          mamilos duros
                        no fim da primavera                             revelam-se os mistérios
                        só a escuridão                                        tão docemente
                               
                        sobre o koto    cabelos                         uma flor desabrocha
                        os meus descabelados                        
vem tingida de carmim

 
             No livro os tankas aparecem a direita da página, lembrando que em japonês lê-se da direita para esquerda e em alguns versos os espaços entre as palavras são maiores para “efeitos de elipse ao se evitar...o uso de conectivos, de adjetivação, frases explicativas” que eu ao transcreve –los, não obedeci. 

Como não tenho folego para textos de grandes tamanhos, os orientais são uma verdadeira escola para meus exercícios de escrita. Um grande abraço e até breve.
                                                                                                           
                                                                                                            Alberto
 
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 21/06/2012
Reeditado em 21/06/2012
Código do texto: T3737132