preciso amar alguém

porque minhas poesias não tem destinatários. Nada além de sentimentos entrecortados de uma linha a outra. Como rosas cinzas, sem cor e cheiro, saio despencando de um andar pra outro desse prédio abandonado. Preciso encarar o inevitável e partir pras ondas do mar. Pro vento gelado, o arrepio na nuca. Sair desse ponto de ônibus que só vejo poeira e encontrar um clube que a cerveja me caia quente, mas que eu ame porque eu estou ao seu lado. E talvez eu não saiba amar. Não existe um meio. Não existe explicação pros raios vazados que interrompem no meio da noite.

E me enrolo tanto pra dizer: eu preciso de alguém pra amar. Talvez não apareça nunca e essa possibilidade me assusta. Porque tem um hiato enorme no lado esquerdo do peito. Uma pausa entre as horas que estou só. E outra lacuna nas horas que eu devia estar encontrando algo. Eu, tola, estou tentando encontrar algo. Mas sei que esse algo é o tipo de coisa que te encontra antes de você tirar o pé da cama. E não são os sonhos. Nada que caiba aqui, nesse texto ou desabafo. Desabafo? Não. Eu estou me calando aos poucos, que erro. Ao menos ainda me resta a noção do pôr-do-sol, do que é um dia lindo. Mas as cartas que escrevi são pra ninguém, são um monte de nada que fiz o favor de desenhar. São vazios que preferi jogar no papel do que no lixo. E percebo agora que não escrevo, eu me descrevo.

Eu queria mesmo acordar no meio do início da chuva, dos três pingos d’água que batem no vidro da janela e perguntar “é você esse raio que corta a tempestade?”. Mas não posso! Eu não posso porque simplesmente não existe raio algum! E tampouco exista pessoa que leia isso porque não existe! Nada existe. Nada é matéria palpável e eu queria te dizer que quando não olho pra nada é porque tento olhar pra mim. Dentro dos seus olhos. Por isso que eu escrevi: dentro dos seus olhos eu não vejo nada. Porque eu me vejo. Eu me vejo em pontas de cristais pedindo socorro e ninguém ouvindo. A carne sendo perfurada. Nos seus olhos, dentro dos seus olhos eu me sinto. E não te vejo porque eu só me sinto. Mas tem esse hiato estúpido que me impede enxergar de quem é esses olhos. Talvez eu nunca veja. E isso me rasga.

Pequenos traços de brilhante encharcam a tela da TV e ela está desligada. Parece vida querendo nascer da lugar algum. Eu queria nascer de lugar nenhum e partir direto pros seus braços. Mas não existe ainda métrica que me diga a distância. Talvez porque não exista final. Nem história.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 17/06/2012
Código do texto: T3729443
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