SOBRE O SUCESSO E A FAMA

Hoje, em Porto Alegre, no Sul da América, por volta das seis horas, acordei tiritando de frio, pés enregelados, sem nenhum exagero me sentindo congelado... Fui buscar a estufa a óleo para o primeiro uso, e tinha que lhe afixar rodinhas, para que ela pudesse ser removida com mais facilidade quando aquecida. E quem é que diz que eu conseguia parar de tremer pra colocá-las... Só quando começou a esquentar o quarto é que consegui pregar os olhos. Nem a leitura matinal conseguia me atrair... Ando com saudade de ti e dos nossos papos, que, no teu programa da Rádio Garibaldi, em Laguna, SC, adquirem a desenvoltura de um mate de compadrio, bem ao gosto dos gaúchos, concelebrando a irmandade dos sulistas. Realizas um benefício importante para o espiritual dos ouvintes, amigo Atanazio Lameira! Gosto de ver como transpiras sensibilidade e entrega ao coletivo ao fazeres o programa “UTOPIA & PAIXÃO”. E, num repente, do nada, sem aviso, chega ao microfone um conversador com vontade de dizer versos e prosas... Aí é como uma abelha no mel. Grato pelo espaço sempre aberto aos meus grilos... Estou com novos livros: SORTILÉGIOS, NO VENTRE DA PALAVRA e A POESIA SEM SEGREDOS. Os dois últimos são paradidáticos, o primeiro é matéria de criação assentada no denso limbo tangencial entre a Poesia e a Filosofia. Quanto a esse tal de sucesso de que me falas, digo-te que ele me assusta, mesmo sem atinar se é que ele chegou ou chegará pra mim nalguma dia. Porém, para qualquer escritor, o início demarcado do sucesso (mesmo) é ter EDITOR BOM E FIXO e a isso ainda não cheguei... Mas chegaremos juntos lá. O que eu anseio mesmo, com denodo e afinco, é deixar uma boa obra à posteridade, porque o criador em Poesia é o único perfil artístico (a meu ver) que não nasceu pra ser reconhecido, consagrado ainda durante a sua vida terrena. Se o poeta fizer sucesso em vida terá negado a sua condição de antevisor, de profeta, de figura para mais além de seu tempo, e negará a etimologia do nome POETA, na origem grega. Será mais um apenas rabiscador, alinhado ao lugar comum do sucesso tipo Michel Teló e o seu "Ai, se eu te pego...", exemplar típico da mesmice global e consumista. É o que acontece, principalmente nos EEUU, em que um autor enriquece com um único best seller... Depois o seu nome desaparece da mídia e dos registros bibliográficos como se houvesse morrido. Eu prefiro algumas centenas de leitores, com quem converso amiúde pelas redes sociais, e me agrada curtir o carinho e os afetos do interlocutor. Felicidade pra mim é isso: obter o sucesso na cabeça de poucos sem ficar excessivamente famoso. E aguardar o trânsito inexorável das palavras sobre o seu desconhecido destino...

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/12.

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