o mundo acabou faz tempo,

nós passamos pela cauda de um cometa gelado e você não percebeu. Você diz que vai mudar, mas as pessoas não mudam. À menos que você queira e nós sabemos que não quer. O mundo acabou faz tempo e você saiu rápido da sala de estar, com medo de que a TV mostre notícia da morte do seu cantor preferido. Mas a música acabou há tempos, fazem anos que não ouço parabéns na gaita do meu avô. Eu ainda escuto os fogos de artifício que comemoram o ano novo, só que o ano é novo porcaria nenhuma! Você tenta disfarçar os sinais de gagueira e a sua fala ainda fa-fa-falha. Você também vive falhando, é um rabisco feito à lápis mal apagado. Cheio de buracos, de brancos. Enquanto você lia tranquilamente o jornal, a vida lá fora desabava. E tudo continua caindo e caindo, por que você não consegue ver? Enquanto você tomava o café com açúcar até não poder mais, tentando maquiar o amargo do sabor, as tempestades tomavam conta do céu. Ali, bem perto de você. Cade as suas marcas na pele, as feridas abertas que deveriam te aterrorizar até o último instante? O mundo acabou quando você disse que ia se desentortar e mesmo assim continuou pegando o caminho errado; você nem faz questão de mudar a direção da viagem. E, por isso e pelos lírios que não nascem mais, eu não consigo te alcançar.

O mundo acabou faz tempo e você nem quis notar.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 06/06/2012
Código do texto: T3709701
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