Fazer o céu de bala

Tive quatro paradas cardíacas ao ler o sms que você mandou e eu juro ter visto as estrelas explodirem ao fundo; mas talvez seja alguma coisa da minha imaginação que insiste em espirrar magia no céu. E eu já te disse que céu é pessoa, não? Hoje eu vou te ensinar como desmontar pessoas. Vou ensinar de dois jeitos, o primeiro é imaginar que as pessoas são balas e você não pode provar o gosto pra sentir o sabor, você tem que sentir o sabor pra provar o gosto e é bem no meio do peito que se acerta essa flecha; começando pelo coração você desmancha qualquer monstro. E o coração explode na boca como vários balões fartos de ar. Boom. Boom. Boom e você acerta em cheio qualquer ponto fraco. Qualquer. Ponto. Fraco. Mesmo que o ponto seja você. E se acertar é como dar um passo em falso no abismo, nunca mais vai dar pra voltar. O segundo jeito é correr. Correr pra qualquer lugar, sentir a rajada de vento raspando no rosto e perceber que o vento puxa um sorriso forçado na face porque estica a pele. Correr é sentir a alma expandir e ela preencher todos os cantos. Desmontar pessoas, o céu, as flores é a mesma coisa que se expandir ao máximo e ser toda a parte da história. Ser o início, o meio e o fim. Só que desmontar flores é ser o bem-me-quer e o mal-me-quer, é ser os dois lados do Sol - aquele que você nunca vê e aquele que te puxa pra dentro. Eu diria que você me fez engolir uma música pra me forçar a dizer isso porque essa era a única coisa que eu não queria contar pra ninguém. Era mais um segredo que eu escondia numa folha no meio do caderno. Desmontar o céu. Como desmontar o céu, parece até frase titular de algum manual de instruções de brinquedo. Eu diria também que esse tipo de coisa não se ensina, só se percebe num dia lindo de Sol enquanto se lê algum livro num banco de algum parque. Mas acho que você não vai a parques.

Ah, e se você um dia aprender como me desmontar, diga. Mas me ensina um jeito de engolir o coração sem ferir o resto do corpo porque eu preciso. Eu preciso de uma forma de controlar as emoções sem me despedaçar inteira. É que eu só sei desmontar e não construir. Se eu tentar me quebrar, sei que nunca mais volto ao lugar. Eu queria engolir meu coração num prato cheio de sábado e dizer adeus às noites de carência. Dizer adeus pra melancolia de domingo. Pra toda maneira estúpida que enxergo o mundo. Pras noites sem Lua. Céu sem estrelas. Estrelas sem céu. E dizer adeus também pra minha fixação por tudo o que é escuro demais, proibido demais, misterioso demais, torto demais. Ou só saber dizer adeus sem esse medo de nunca voltar.

Agora é só saber qual céu ou pessoa você vai desmontar.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 06/06/2012
Código do texto: T3709697
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