Cartas Improváveis: De Tagore para Auriboundo
Calcutá, 15 de maio de 1908.
Caro Sri Aurobindo,
Muito me Entristeci, quando eu soube da sua prisão, mas tenha a certeza que essa reclusão se tornará o marco da liberdade para o povo hindu.
O seu discurso no parlamento retumbou por toda à Índia. Isso me deu a certeza que a nossa luta de independência não será vã.
Nesses últimos dias tumultuados da revolta, eu fiquei buscando o propósito da liberdade e me deparei com uma questão:
Se Vivemos dentro do véu de Maya e a realidade nos é apresentada em fragmentos. Por que amamos tanto a ilusão?
Penso que na ilusão estamos confortáveis e podemos buscar os prazeres do kãma. Não se perde tempo com políticas, filosofias e construção do futuro. Simplesmente se vive o momento.
Entretanto, de alguma forma, isso também é uma prisão, então: Não existe liberdade no mundo da ilusão, aliás, nosso corpo é o tronco do sofrimento.
Os britânicos estão nos cerceando dos nossos costumes e de nossas crenças. Impedindo-nos de por em prática nosso caminho de libertação do corpo.
Se assim continuar, não demorará e os hindus terão os costumes dos ocidentais e a busca dos vedas ficará esquecida ou restrita aos gurus do Himalaia.
Duro chegar a essa conclusão.
Para que nosso propósito espiritual não se perca, devemos, o mais rápido possível, se libertar dos britânicos.
Para tanto é preciso estar em paz conosco. Se pegarmos em armas, nós seremos facilmente trucidados. Não se pode lutar contra as legiões britânicas na base da força (É como enfrentar um elefante enraivecido).
O único jeito de derrotá-los é pelo caminho da paz.
Não sei, mas minha voz interior diz que logo, logo surgirá um homem que utilizará da paz e da sabedoria e teremos um período glorioso, pronto para Shiva retornar.
Nada vive separado do universo. Precisamos urgentemente buscar o equilíbrio (mental e espiritual), para que nossas ações tenham êxito e finalmente, depois de séculos de dominação, possamos cumprir nosso destino junto aos deuses.
Apesar da sua situação reclusa, aproveite o momento de quietude para buscar os fragmentos da realidade. Faça isso, sem demora, porque senão você poderá cair na loucura e ninguém mais poderá ajudá-lo.
Ainda que seja mínima sua conscientização interior, isso o ajudará a mudar o seu destino e o seu ser. Somos parte da grande obra de Brahma e não há porque ter medo.
Estamos trabalhando com muito afinco para libertar o amigo e espero vê-lo em breve para discutirmos o futuro da Índia e de nossas almas.
Até breve.
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