A carta que nunca enviei
Hoje, sentindo-me como num dezembro de minha vida, abri gavetas, vasculhei papéis, rasgando uns e guardando outros. De repente, encontrei uma carta de amor já amarelada pelo tempo.
Não havia claramente expresso o nome da destinatária, mas pude perceber que quando a fiz estava dominado por intensa emoção. Essa carta eu não a escrevi com a caneta, mas com o coração!
E eu dizia tantas coisas!...
Coisas que jamais tive a coragem de dizer para alguém...
Dizia, por exemplo, o quanto a minha vida estava vazia de sonhos e que, quanto mais vazia de sonhos é a nossa vida, mais ela pesa sobre nós... Que a pessoa, para a qual eu escrevia, e que hesitava em aceitar a minha oferta de carinho, deveria pensar que os poetas, quando falam de amor, às vezes falam mesmo de amor!
Talvez essa pessoa, se estivesse também com a vida vazia de sonhos, ainda não tivesse desistido do sonho de felicidade e que, quando o assunto é felicidade, apenas as pessoas que amamos e que nos amam é que podem trazê-la.
E eu lhe dizia - com muita esperança no coração ! - que eu sempre soubera que é um ato de muita coragem compartilhar o nosso sonho com alguém. Teria ela essa coragem?
Por fim, a frase que transmitia a inequívoca convicção de que a minha alma com a dela se envolvia, em inefável anelo de amor: “Desde que lhe conheci, a sua presença é uma recordação persistente no caminho que tenho percorrido”.
O que teria mudado em minha vida, se eu tivesse enviado essa carta? Não saberei jamais...