Carta á Menina - I

Foi nesta noite que resolvi escrever. Sem querer ser redundante. Tentarei ser simples. Falar das coisas que se fala em cartas. E tentar não elogiar-te muito. Para que não canse de meu exagerado afeto. Poesias são por mim melhores escritas, mas necessito escrever-te cartas. Há nisso um saudosismo poético, uma certa destruição feliz do meu ser. Ponho me agora a fumar palheiros enquanto escrevo. Meus dedos estão a amarelar. Sei que esta carta vai acabar sendo monótona. Mas escreverei mais, e como vinho minhas palavras tornarão-se interessantes á medida que envelhecem. Só espero não avinagrar.

Mas o que ia falar-te mesmo?...hum...Lembrei-me. Iria falar de ti. De teus negros cabelos um pouco acima dos ombros. Que emolduram seu rosto, que já disse várias as vezes que é lindo. E de seus lábios que repito sempre o quão aconchegantes são. Mas caio sempre neste romantismo barato.

Poderia perguntar-te o que fazes por ai e como anda a vida. Mas não sei se responderias. Fala comigo quando deseja e me deixa sem respostas, mas já me acostumei. Não importo-me em esperar teus desejos. Tuas inciativas as vezes me surpreendem e preciso ser surpreendido ultimamente. Ninguém mais faz isso há tempos.

Confesso que estou desolado aqui. E que se pudesse não escreveria cartas, falaria minhas baboseiras que te enaltecem através de beijos. Apanhei uma rosa hoje a tarde. Está aqui, num copo d'agua. Imagino entregando-te ela. E esperando seu sorriso discreto...e seu olhar de lado...com seus grandes cílios hipnotizantes...

Devo ir dormir logo. Estou cansado do mundo por hora. Só continuo de pé porque preciso escrever esta carta.

Na verdade agora bateu-me uma dúvida...devo-te enviar este escrito...ou guarda-lo...? Penso em ter uma gaveta de cartas que pensei em enviar-te. E lê-las nas noites sozinho, ouvindo um blues e tomando uísque. Arrependendo-me de não tê-las enviado. Sabendo que vais estar em algum lugar longe sem saber das coisas que eu escrevi.

Como se pregasse-me numa cruz. Admirando tu passar e sem nada falar. É isso que acontece em meus sonhos. Como se estivesses numa redoma de vidro. Sinto-me acho que como aquele pequeno menino de capa e espada que veio de outro planeta e queria um carneiro para comer baobás. Aquele que tinha uma rosa. Imagino-te as vezes como se fosse aquela rosa.

Devo dormir realmente. Sinto a fadiga invadir-me. Deverias vir aqui me salvar. O mundo acaba com minha existência.

Se viesses acariciar meus cabelos, dormiria sem ter pesadelos. Mas cairei em meu sono doentio. Talvez sonhe contigo e durma feliz, talvez.

Mas escrevo-te mais, dia desses. Será um exercício para minha alma.

Durma bem por ai. Vez ou outra lembre-se de mim e de meus beijos. Não seja tão egoísta e nem abuse de minha adulação.

Vou-me.

Au revoir!

Laranja Jack
Enviado por Laranja Jack em 28/05/2012
Código do texto: T3691818
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