Para o amor que não me amou até o fim
Eu me lembro desse dia: vesti uma blusa e fui te encontrar. Você antecipou que iria partir, mesmo assim tive esperança de mudar algo.
Lá estávamos nós, no mesmo lugar onde tudo começou. Tão paulistano. Sentamos no banco da plataforma. Você me dizia tantas coisas e eu te olhava fixamente, tentando compreender. Você estava calmo, por quê? Como conseguia ficar tão calmo? Você estava se despedindo de mim...
Nossa, estava frio aquele dia.
Enquanto você dizia tantas coisas, segurava minhas mãos. Elas tremiam porquê... bem, você estava partindo e me partindo. Mas você estava tão calmo e estava tão frio.
Eu, te olhando, ainda com muito carinho e muito desprotegida, suplicava para não me deixar. Você tinha muitos planos e eu não estava em nenhum deles, por quê? Te enchi de perguntas, você se lembra? Mas você não esboçou nenhuma reação. Como você pôde não reagir?
Meu Deus, estava tão frio aquele dia...
Minhas lágrimas eram incontroláveis, me faltava o ar. Eu estava mortificada. Eu estava despedaçada. E você? E você? Você não esboçava nada.
Que ventania. Estava frio.
Você me abraçou e me protegeu do vento. Senti seu cheiro. Quem poderia imaginar que seria a última vez...
Suspirei. Eu lembro do gosto desse dia: tinha gosto de lágrimas, água salgada.
E estava tão, tão frio.
Descemos a escada rolante abraçados, caminhando para o fim. Você estava me deixando para sempre. E estava frio, frio, muito frio. E eu tremia. E eu chorava. E você estava me deixando para sempre.
Então eu te olhei e não te enxerguei. Nunca mais eu te enxerguei, mesmo te vendo depois. E você me deu um beijo e se foi, tão tranquilo e tão exato.
Já faz 10 anos. Era um dia de verão, mas estava tão frio.