Querido Aniel

               Como você sabe, sou muito preguiçoso para ler poemas muito longos ou “tijolaços” em prosa a não ser que sejam divididos em estâncias ou capítulos curtos. Daí me agradar tanto a poesia japonesa, na forma do tanka e do haikai. Hoje, falo a você da leitura de” Trilha estreita ao Confim”, relato  das três principais viagens de Bashô: “Visita ao Santuário de Kashima” (1687), “Visita a Sarashina” (1688) e “Trilha estreita ao Confim”, de 1689 a 1993. Traduzidos por Kimi Takenaka e Alberto Marsicano. Editora Iluminura.

               É um livro fascinante sobre a poesia japonesa, dedicado ao haikai e ao seu maior poeta, Bashô. É incrível a importância que se dava aos poetas, nas lonjuras do século dezessete. E mais inacreditável ainda o motivo pelo qual eles faziam tão difíceis e arriscadas viagens: visitar templos, ou contemplar a lua cheia em tal ou qual montanha.

               Viajavam a pé, a cavalo ou barco. Poetas errantes. Pelos caminhos percorridos iam encontrando amigos e registrando haicais por eles escritos, por isso, esse pequeno livro é também uma verdadeira antologia de haicais:

 
voa a lua
pingos nos galhos
sorvendo a chuva
                  (Tosei)
como á solitária a lua
ao som do gotejar
da calha do templo
                 (Soha)
para ver a lua
paramos o barco
que subia a corrente
                  (Sora)
 sempre o mesmo
imutável no céu
o clarão da lua
mil espectros de luz
nas multiformes nuvens
                     (Monge)
 
               Que importância tinha para eles a lua?  Os motivos: as estações, flores, árvores e sem essa de plágio, só porque usam as mesmas palavras, os mesmos temas.  Confraternizam. Um trecho de na ”Trilha estreita ao Confim”:

              “Escalei o monte Gassan no dia oito. Gassan é conhecido como o “monte da Lua”. Coloquei ao redor de meu pescoço um colar feito de papel branco e sobre minha cabeça um capuz de alvo algodão. Depois de galgar mais de oito milhas através da névoa, respirando o ar rarefeito das grandes altitudes, caminhei pelo gelo e pela brancura das neves eternas até o último portal das nuvens, na senda do sol e da lua. Arfante e gelado alcancei o cume. O sol acabara de se pôr, e a  rósea lua clariperfeita no céu brilhava. Juntei algumas folhas no chão e dormi. Quando na manhã seguinte o sol surgiu luminoso, dispersando as nuvens, comecei minha caminhada de volta, rumo ao monte Yudono”. Bonito.
 

               Termino estas ”mal traçadas” reproduzindo o seu mais famoso haikai:
 
   velho lago
mergulha a rã
fragor d´agua.
 
                                                                                                   Abraços.  Alberto
 
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 23/05/2012
Código do texto: T3684361