Escrevo

Escrevo essa carta como alguém que já escreveu muitas cartas antes, mas nenhuma com o endereço certo. Escrevo essa carta com aquela sensação que fica quando o seu desejo mais forte é esquecer a única coisa que, tem certeza, você nunca conseguirá esquecer. Escrevo essa carta sabendo que o que me sustenta depois disso é a razão e aquele resto de sentimento que nunca se sabe se é amor ou posse. E a cada minuto antes de dormir ou logo após acordar, eu escrevo essa carta pensando se é o que eu realmente quero ou se é só mais um papel ridículo.

Escrevo essa carta para matar minhas saudades de muitas coisas que abandonei para fazer tudo dar certo. Escrevo essa carta para expressar o meu descontentamento com o que eu me tornei. Escrevo essa carta para deixar bem claro que talvez você tenha razão, eu nunca vou conseguir perdoar. Escrevo essa carta com a consciência do quanto é difícil lidar comigo.

Escrevo essa carta com lágrimas nos olhos, mais uma vez, com um aperto no coração, que não me abandona e sabendo que talvez eu tenha que fazer isso. Escrevo essa carta como uma preparação para o inevitável fim. Escrevo essa carta porque provavelmente eu já estou no meu fim. Escrevo essa carta porque talvez não consiga dizer o que quero cara a cara. Escrevo essa carta, porque como alguém disse: “não entender dói”. E eu não entendo, não entendo porque deixei chegar até aqui. Não entendo até que ponto isso chegará, e não quero saber se chegará.

Escrevo essa carta porque amo, mas não sei se te amo, ou se amo a ideia de poder escrever novamente.

Eduarda Daibert
Enviado por Eduarda Daibert em 20/05/2012
Código do texto: T3677790
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