Sobre nós...
Nada parece ter sentido da janela do ônibus. O ar do tempo parece não respirar, o vento parece não encontrar espaço para si mesmo e um nó em minha alma começa a sufocar o momento dessa viagem.
Tudo é seco!...
De repente nem sei se existiu um nós. Talvez a poeira que levanta daquele redemoinho seja a única certeza que traduz um dia o "nós' ter existido. Não me chame de maluca. No fundo sabe-o bem que não são meus olhos que pintam essa realidade nua, mas a força de tudo o que se vive é que transforma auras em nuvem. Sei bem que me traduzem sem o menor zelo pela minha alma, mas também sei que as palavras que escorrem de minha boca são tão puras e inocentes, que nem mesmo o meu coração poderia maculá-las.
Curioso, eu sei, mas não inóspito. Estou indo embora? Sim, mas de mim mesma. Não contenho mais a ânsia de mudar a pintura dessa tela, a moldura desse quadro. Cá a vida brinca de faz de conta e eu cansei de nunca fazer parte dela.
Nem ouse chamar-me cruel. Ao menos sabes o que um dia lhes disse meus olhos? Ao menos sabes quão leves são as minhas mãos e brando meu coração? Creio que jamais notaste. Cá, da janela fria e insensata por onde olho, dá para ver que os caminhos serenos perderam a cor.
Sobre mim ou sobre ti ou mesmo sobre nós, o que há de tão belo nada mais é que o destino aflorando sem pesar. Não é mais música aquele sorriso e nem mais alívio a presença de um 'nós'.
Sobre nós os acordes perderam sua sonata. O mais é poeira na longa estrada que corre atrás de mim sem me alcançar!