acordar no sétimo sono
Eu queria acordar. Eu queria dois copos de leite e sucrilhos no café-da-manhã, queria a vida em forma de flor e seu perfume eterno no meu pescoço enrijecido. A caneta palpitando na mesa e você ouvindo o barulho, nervosa porque o tempo não passa. E ele já passou faz tempo. Eu queria acordar no sétimo sono, no melhor sonho e não lastimar porque a minha realidade dá de dez a zero nisso tudo. Queria a noite clarinha com as estrelas fazendo disputa com o azul do céu. Queria tirar os seus óculos e mostrar que você vê mais sem eles; que, de alguma forma, o vento e a música são um tipo de Deus. E que Deus é aquele gesto bonito e sozinho de se abraçar quando está frio, é o pôr-do-sol quente na tarde monótona de domingo, a maré quebrando na areia da praia. Eu diria duas palavras de gentileza e você me daria tantos motivos para ficar; eu queria, ah, como eu queria! Eu queria acordar com medo de cair no sono e ficar nele para sempre. E o para sempre, em algum lugar, existiria. Queria que o pesadelo fosse um dia comum e eu abominaria isso porque minhas horas seriam fantásticas e surreais demais para os segundos lentos. Eu queria acordar e saber que estou presa na mente de alguém. Mas a única coisa que me prende são os adjetivos de coisas que nunca tive. E você.
Eu queria acordar…