quando fomos a lugar nenhum,
a lugar nenhum chegamos. E a sua voz macia dizia “consegue sentir o peso das estrelas nas suas costas?” enquanto meu rosto pálido ruborizava porque eu não sentia nada. Uma chuva fina começou a escorregar de cima e o seu cabelo começou a soltar um cheiro de shampoo de chocolate. O seu rosto era calmo, dava pra notar na sua íris que você não sabia onde estava. Mas eu sim, eu reparava em cada erro na paisagem - mesmo que o erro fosse o meu olhar desconfiado e as minhas mãos trêmulas. Você assistia com dor no peito o dia acabar, a luz do Sol sempre foi a sua melhor roupa. E, à noite, você só era mais uma dama sem par. À noite você era nua de todas as esperanças e sonhos possíveis. À noite eu via com clareza todos os seus pecados, eu via seus porquês em cada poro da pele. Você se enganava o tempo inteiro, se fazia de labirinto repleto de feras e todas elas sabiam seus pontos fracos. E o seu maior ponto fraco era eu. Em lugar nenhum eu me assistia definhar num canto sombreado da sala, eu me assistia esvair de uma sacada para outra até chegar na parte mais funda do chão e não ter mais pra onde cair. Quando fomos a lugar nenhum, eu já estava na parte mais funda de qualquer chão que poderia ter e você, do último andar do prédio, me olhava com descrença, como se nada de pior pudesse acontecer. E, pensando bem, quando você quis me alcançar em lugar nenhum, eu já estava longe dos seus braços quentes, da sua boca fervorosa e do seu tom pausado. Daqui, daqui do chão gélido e rude eu sentia no rosto as suas gotas salgadas. Quando você quis ir a lugar nenhum, eu já estava lá há muito tempo atrás. Estava tão distante e você nunca pôde me alcançar.