A Pérola
Sabe como me sinto agora? Como um menino que estava soltando pipa e a linha arrebentou. Esse menino fica olhando a pipa flutuar para mais longe até sumir e ele, com a linha frouxa na mão, ainda não acredita que aquilo aconteceu. Um nó aperta sua garganta e os olhos ficam encharcados. Sabe porque? Aquela pipa lá no alto fazia o menino se sentir livre, ser ele mesmo, uma criança.
Você se tornou uma coisa tão preciosa, tão especial e agora não podemos mais conviver próximos como antes. Preciso de um ombro para chorar, do colo da mamãe, de uma música para saudade, de um poema que rime com tristeza.
A saudade causa tantas coisas estranhas na gente, mas a pior delas é a vontade de cair de joelhos e chorar, chorar, chorar e chorar. Mas a saudade que você deixou é gostosa de sentir, doce que nem algodão doce, porque deixou boas lembranças.
Não me apaixonei por você como alguns podem pensar, mas cresceu uma coisa preciosa no meu coração: uma pérola. Um carinho tão suave, doce, morninho, gostoso de sentir no peito.
E agora preciso encarar minhas manhãs cruas, minhas tardes arrastadas. Você já se sentiu como um relógio sem o ponteiro dos minutos? Como um barco amarrado? A única janela acesa do prédio numa noite fria? Desejo numa se sinta assim. É horrível!
Mas o inevitável aconteceu: seu contrato terminou. Agora você precisa procurar emprego, ouvir um montão de não até chegar a hora de agarrar o primeiro sim que aparecer. Outra pessoa tomará o seu lugar, fará o trabalho que você fez, talvez até melhor, ou não, mas isso não resolve o meu problema, não afasta a sua ausência.
E essa coisa preciosa que surgiu no meu coração, essa pérola, é sua, é você...