Nó desatado.
Eu parei de te olhar no dia em que seu olhar não mais habitou a minha alma. Eu parei de envolver-te em meus braços no dia em que percebi que meu calor não era suficiente para te aquecer. Eu parei de te fazer cócegas quando você passou a se preocupar mais com seus artigos de trabalho do que com nossos sorrisos. Eu parei de sorrir quando você entrou em seu carro velho, e eu sabia que você não voltaria no dia seguinte para amar-me, encaixar-me em seus braços, ajudar-me a dormir.
Eu parei de te escrever no dia em que percebi que minhas palavras não sabiam como descrever seu novo-eu. Eu parei de pensar em você no dia em que senti que você não precisava dos meus pensamentos para te preencher. Ontem, porém, senti sua presença novamente. Senti nossos olhares tornando-se mais ferventes à medida que passávamos o tempo juntos. Senti meu coração sendo tomado por um sentimento desconhecido e encantador conforme você fazia-me sua. Nossos dedos entrelaçando-se pela primeira vez, nossos lábios tocando-se de uma maneira doce enquanto admirávamos as estrelas naquela noite de inverno. E, enquanto pensava em você, senti nossos sorrisos sendo transformados em lágrimas conforme o tempo passava. Nossas mãos soltando-se aos poucos. Meus lábios esquecendo-se do sabor que apenas os seus poderiam proporcionar. Sua frieza ao chegar em casa e não se importar por eu não estar ali.
Senti-me esquecendo-lhe, enquanto você esquecia-me. E, se foi mesmo verdade que um dia eu fui sua, e você foi meu, não posso mais te sentir em mim. Se eu te amei, se você me amou, quem irá saber? Você se foi. Eu não impedi nossa despedida. Você não me precisa como precisou um dia. E eu sinto a sua falta. Singelamente, sim, mas sinto. E não há nada que eu possa fazer para mudar uma realidade que, há muito, me assusta. Não há destino que nos una, não há coração para ser amado. Há, apenas, um eu que não te conhece. Um você que cansou de me conhecer. Um nós inexistente. Um nó desatado.