Doce mar

E de nada se custa, ou se busca, buscar-te a si mesmo como à um náufrago, reles ser que à deriva do mundo e da vida se perdeu. Doravante não mais que senhor ou dono, antes escravo, escrevo, não mais que frases ou poemas mas lamentos, soluços de uma alma atormentada. Não mais que escrevinhador de amores ou dores mas de sangramentos de alma, fins de sanidades e loucuras, insones noites de lamentações e escritos. Não mais escreverei sobre o amor, posto que esse mal de mil extirpei como a um cancer, doença insana que de mal se cura,antes se sacia e de beijos, que de ânsia se deslumbra. Não mais eu, que de amargor transforma a alma e transporta, hoje, o corpo vil em doença viva e rastejante. Eu, que de amargo torno todo o sabor de minha vida por escolha: escolho-me dissipar, azedar-me detantas cores, esses amores, que de amargo fazem o mel. Lanço-me ao mar de lágrimas e de dores, naufrago sem vitorias e sem salvador, que se recusa a salvação e antes, desejoso do fim, ao mar se adianta. Ah, que pedras me sejam atiradas,que se desfaçam de mim como a um nada, pois assim de nada fui ou jamais serei, senão o fim de um mal, um mal sem fim. E então, como náufrago errante de surdos gritos loucos meu corpo se perca na imensidão do vazio e seja encontrado na mais distante e deserta praia ao abandono, posto que de nada terá valido o navegar ,pois nenhum lugar me foi suficiente , nem me teve senão por habitante temporário de atormentada mente insana. E feito um eco mudo que se perde na noite escura e vazia, me esvazie, na solidão absoluta do silêncio

JAlmeida
Enviado por JAlmeida em 14/05/2012
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T3666607
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