Cinza

Nunca me julguei apto a nada senão à sina de ter o fim por destino e condição. Nada me foi grandioso ou soberano que não as lágrimas e as perdas. A elas me acostumei e as tive como filhos, abortos acéfalos de ingloriosos partos. Se os sonhos existiram certamente os tive em meio a pesadelos horrendos ou em cáusticas noites de abandono. Fetos malditos e inesperados foram todos os meus dias e deles obtive prazer, ainda que apodrecidos e fétidos. Em nenhum instante de minha miserável vida vi outra cor senão a cinza. Assim permaneci longas noites nesse mundo vil e insano, de dementes homens..

JAlmeida
Enviado por JAlmeida em 08/05/2012
Reeditado em 09/05/2012
Código do texto: T3655833
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