Carta ao meu Mestre Graciano Carlos Pirovani
Carta ao meu mestre Graciano Carlos Pirovani
Guaçuí – ES, em 21 de abril de 2012.
Querido Professor Pirovani , atualmente, passo horas na Internet e acabei me acostumando a fazer uso de palavras que só existem na linguagem dos computadores, como deletar e inicializar. Tornei-me um internauta, ‘’aperfeiçoando’’ a linguagem com abreviaturas, neologismos, letras trocadas e vários sinais e abreviaturas.
Cheguei à conclusão de que, meu grande mestre, você é um analfabeto virtual, enquadrado assim pela comunidade tecnológica como uma ameaça ao internetês.
Fico feliz em ser assim Tb enquadrado e quero associar-me, como um viciado, pois vejo-me, frequentemente, utilizando expressões como ‘’aki’’, ‘’naum’’, ‘’bjos’’, ‘’kd’’, ‘’hj’’, ‘’xau’’, ‘’vc’’, ‘’pq’’, ‘’ñ’’, e tantas outras que assassinam a gramática e tentam subestimar nossa formação, aquela que pudemos experimentar sob a sua batuta, com exímio domínio intelectual da Língua Portuguesa e suas facetas.Confesso que me esforço para não me deixar levar pela banalização da língua, mas leio alguns artigos de estudiosos que isso tudo é uma forma de nos aproximar dos adolescentes.
Insisto , com meu grande e incomparável mestre, inconformado com a enfermidade grave que assolou nossa gente, desvirtuando saberes que incorporamos e elos de conexão com a escrita e com a fala, com o pretexto de que o tempo e a velocidade da comunicação nos exigem ‘’emburrecer’’, deixando de lado o saber e o pensar. Recordo-me de uma aula em que o senhor destacou a obra O Pequeno Príncipe, que nos diz: “ Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”. Hoje, transcorridas algumas décadas, vejo-me sentado à sua frente, encantado com o seu saber científico e humano e me sinto responsável em eternizar suas obras como educador homem de fé, esposo da minha amada professora Lourdinha e meu grande amigo, um exemplar professor que se tornou. O senhor me cativou tanto, ao ponto de me incumbir, involuntariamente, a ser como um filho amado, mesmo que adotivo, mas com o sentimento de amor filial que é a essência do exercício do magistério , que faz a diferença e que nos aproxima .
Professor Pirovani, para todo mal, confio plenamente que há cura. Desse mal jamais morrerei, pois seus ensinamentos resistem ao modismo, à tecnologia. Agora, acredito que a máquina jamais substituirá o homem pois penso, logo existo. Penso, existo e vou resistir a toda essa banalização a que estão submetendo a nossa gramática. Você, meu mestre, representa a resistência a essa corrente que nos leva ao fracasso. Ajude-nos a não nos tornarmos imbecis e achar que tudo é lindo e que deva ser assim mesmo. Há um tempo para tudo; inclusive para agradecê-lo por ser ícone na arte de ensinar a Língua Portuguesa e tempo para dizer que Guaçuí o tem como o mais brilhante amante das letras e produtor de uma riqueza humana de que nós, seus ex-alunos nos transformamos em cidadãos plenamente capazes. Parafraseando o imortal Chico Anísio, meu amado mestre, abrigado por tudo! Prometo que engrossarei fileiras para salvar a sua amada Língua Portuguesa!
Fraternal abraço de seu eterno aluno e aprendiz,
WEBER JOSÉ VARGAS MÜLLER