Num fim de semana de feriadão, vésperas da celebração das bodas de prata de casamento, escolho reler um texto breve de Epicuro, a Carta a Meneceu (ou Carta sobre a felicidade, Ed. Unesp).
Correndo o risco de transformar uma reflexão mais densa em um comentário que beira a auto-ajuda há um trecho que gostaria de partilhar:
"Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir mais".
Epicuro (341-270 a.C), nesta breve sentença, parece mais contemporâneo do que nunca. Em tempos muito próximos de nós as reflexões deterministas produziram um discurso da inevitabilidade. A idéia de que a vida é imponderável apenas reforça nossa angústia e nossa responsabilidade diante de escolhas contínuas e cotidianas.
Nada esperar não significa nada fazer. Da mesma forma, invertendo a sentença, tudo fazer - prática de um discurso utilitarista - não significa obter. No intervalo entre as duas coisas espanta-se o imobilismo, a comodidade ou o desespero que agregamos ao nosso cotidiano.
Não há catástrofes nem redenções prévias: tudo por fazer, sem qualquer forma de garantia. Eis o fardo das escolhas humanas e a beleza que torna a vida única e irrepetível.