A Contagem - Dia 06/10
E segue a contagem, últimos momentos, derradeiros instantes, sem imagens, sem semblantes.
E percebo agora, tardiamente, que não posso obter aquilo que eu não permito que de mim mesmo seja acessado, pois muito contido, muito escondido, intenso mas não devidamente demonstrado, não libertado, não liberado.
Sim, meus sentimentos estão lá mas não são percebidos, pois simplesmente não os demonstro, em hora, momento e modo adequados, talvez o que eu venha a permitir ser visto e percebido não seja um sentimento realmente valioso, apenas uma parte dele, que talvez não tenha nenhuma condição de nada representar, de ser identificado como algo de valor, algo real, algo nítido, algo que pudesse ser avaliado e tivesse o alcance de outro ser, que tocasse o sentimento de outro ser e ao tocá-lo pudesse ser sentido, enaltecido, compreendido e correspondido.
Quem sabe por não ser corretamente demonstrado, -tal produto que não se compra e não se valoriza por não conhecermos sua real função, sua real necessidade-, o que de fato acrescentaria em minha vida...
Quanto vale um sentimento?
Um amor, uma paixão, uma amizade, uma dor, uma mágoa, um ressentimento?
Não há uma escala que possibilite tal mensuração, tal aferição, depende de quem sente e de quem se ressente, depende de sua origem e de sua destinação, pode ter um valor imenso ou pode ter o valor de nada.
O meu amor por ti tem um valor que transcende tudo em mim, mas esse mesmo amor se não te faz bem, se não te toca o coração, não te enleva a alma, o espírito, vai pouco a pouco perdendo uma parte desse valor, não em mim, mas em ti.
E o teu amor para comigo?
Qual o seu valor? Para ti? para mim?
Não posso falar por ti!
Falarei por mim: vale mais do que possa supor sua imaginação , mas se não o sinto diariamente, a todo o momento, a todo instante, se muito contida sua demonstração, se não é cuidado dia após dia, se não posso facilmente percebê-lo, vai pouco a pouco, homeopatica e pateticamente, se perdendo em mim, em meu coração, nos meus pensamentos, ficará preso, contido, reprimido e petrificado em minha solidão, pois preciso senti-lo, se não por imagem, por tato, ao menos em uma ínfima atenção...
E chega o marco...dia 06 de 10...