FALAR TUDO O QUE SE PENSA...

Não, não fiquei zangado com a abordagem mal feita, achei grosseiro e mal posto. Fiquei, sim, pesaroso e, por fazeres parte de meu estrito círculo de amizades, causou-me muita irritação... Faz algum tempo, de coração aberto e pensando em voz alta, imaginei que poderias adquirir alguma polidez, porque este qualificativo é condizente com a tua condição de escritora de nível. Mesmo que com postura de diletante, sempre amadora (por isso mesmo com certos entraves ao universo das letras), porém com boa verve, e que vem melhorando em muito, ampliando o leque de observações das coisas que te cercam e precioso entorno de amizades e vivências. Não é questão de se acostumar com isso ou aquilo, com o fazer ou não, e, sim, compreender que a falta de conhecimento ou de leitura afasta a minimiza o entendimento. Parece-me que aí está o busílis: alinhar as ideias com muito senso. Falar tudo o que se pensa é fonte de mal-entendidos. Isso eu aprendi a duras penas. Desejo que reflitas sobre isso para que possamos ser mais abertos em nosso relacionamento pessoal, se não só falaremos em doenças em nós e em nossos familiares, e a pequenez humana que perpassa em nós como uma chaga original tomará conta. Sabes? Curiosamente, depois dos sessenta, o mundo vai se estreitando em alegrias... Admiro-te muito pra deixar de alardear o que ora jogo pra fora... Desejo que fales sempre com a Providência a te banhar o espírito. Aprendemos a todo o dia que passa...

– Do livro AVE FUGIDIA – Palavra & Diversidade, 2011/12.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3624522