CARTAS PARA CLENIR - V

Brasilandia 30/09/2001

Querida Clenir.

A cidade onde estamos é pequena, mas o povo é receptivo e nem parece cidade do interior de Minas, é um pessoal ativo e não mostra aquela desconfiança com forasteiros como a maioria das cidades mineiras. Temos conversado com muitos moradores e procurado reunir informações sobre as fazendas do município. Para chegar aqui, rodamos por estrada ainda sem asfalto, toda construída dentro de área de cerrado. Entramos em varias estradas feitas para carros de bois e poucas delas levavam a algum lugar é como se os donos das fazendas estejam querendo esconder alguma coisa. Cercam a estrada com uma porteira e colocam grossas correntes com cadeados e uma placa avisando ser proibida a entrada, algumas mais agressivas e com ameaças veladas como: “Afaste-se, não o convidei a entrar, mas posso convidá-lo a sair usando meus direitos de proprietário por invasão”.

Não insistimos em entrar, fizemos um pequeno mapa assinalando as distâncias percorridas usando o velocímetro do carro, para localizarmos no futuro estes locais e pedir uma investigação. Entramos em uma destas estradas e as placas mostram como se desrespeita a lei no nosso país. A mesma porteira com grossas correntes e grandes cadeados e as placas: Proibida a entrada, clube de pesca e caça particular, não insista, atendimento apenas para sócios. Como é que pode? Nosso estado, não tem licença de caça para ninguém, pesca sim, mas caça não existe. Fizemos as anotações e retornamos para o único local de acesso que encontramos ao Rio do Sono, a ponte que fica num lugar rochoso e muito bonito.

Conversei com um senhor que mora na cabeceira da ponte se poderia acampar, nas imediações, ele disse que não haveria problemas, mas nos convenceu a não armar as barracas. Ele tinha muito espaço na casa um antigo alojamento desativado e nos convidou para ser seus hospedes. Não apenas passamos à noite na casa do senhor Clóvis, aceitamos um jantar muito gostoso que ele preparou e nos ofereceu. Foi pouco o tempo que estivemos com ele, mas pode-se dizer que nos tornamos amigos. No outro dia pela manha, de posse de informações mais precisas sobre a região, voltamos a procurar as estradas vicinais, tentando encontrar uma que desse acesso à margem do rio. Era bem cedo, por volta de sete horas. Conseguimos uma entrada e seguimos por mais de vinte quilômetros dentro do cerrado.

A mata de árvores retorcidas dava uma idéia de solidão, eu dirigia a picape com cuidado pela estrada coberta por mato rasteiro, sinal de que não estava sendo usada a muito tempo, de repente entramos numa área sem árvores de porte, por todo lado só havia arbustos, paramos e desligamos o motor. Trocando considerações com o senhor Josias fui verificando quanto estrago havia sido feito. Uma área que não conseguíamos vislumbrar toda, estava coberta apenas com capim e rebroto que ninguém pode prever quantos séculos levará para voltar a ter o porte da vegetação antiga isto se não houver mais desmatamentos. É pena, a terra é pobre para agricultura e as chuvas não são abundantes, se não se tomar nenhuma medida de recuperação, toda esta área corre risco de virar um grande deserto num futuro próximo. Isto apenas para atender a ambição de quem pensa que o planeta foi feito apenas para ele passar sua miserável vida, e quem vir depois que morra, sem ver as belezas aqui escondidas. “mesmo sendo seus filhos e netos.”

Sentamo-nos sob uma das poucas árvores que foram deixadas em espaços calculados para despistar alguma possível investigação aérea. Ficamos em silêncio pensando na degradação ambiental inescrupulosa e que só acontece por que certamente as autoridades devem estar coniventes e recebendo propinas para deixar acontecer tais desatinos. Ouvimos um barulho atrás das costas e ao me virar vi um casal de enormes veados pastando calmamente e caminhando em nossa direção sem darem pela nossa presença. Ficamos encantados com a aparição, que alegria saber que os animais ainda existem ali, parece que a tranqüila permanência estava dando segurança a outras criaturas silvestre. O vento quase imperceptível soprava dos animais para o nosso lado, isto evitou a denúncia do nosso cheiro, apareceu um bando de emas e um casal de jandaias, amarelas e pretas enormes. Ficamos tão perto dos veados que dava vontade de tocá-los.

Talvez pela vontade de estar em silêncio eu tenha ficado ansioso e tentei conter um espirro, mas não consegui acho que o fedor de almíscar dos animais no cio. Quando espirrei, os animais saíram numa correria desabalada pelo meio dos arbustos e desapareceram. Ficamos tão empolgados que nos arriscamos e acampamos no terreiro da casa branca abandonada e para justificar nosso disfarce, jantamos peixes fritos no pequeno fogão a gás e pescamos no rio do sono, abundante em peixes. Novamente eu estava sob um lindo manto estrelado, acendemos uma fogueira e fiquei dedilhando o violão enquanto o senhor Isaias assobiava um canção acompanhando o ritmo toado que eu tocava. Ele se despediu e foi para a sua tenda, eu fiquei pensando em você e nos nossos momentos íntimos, como sempre, bateu a saudade e me pus a sonhar acordado com a certeza de que ao dormir sonharia com nossos momentos de carícias e amor.

Fui à picape peguei papel e caneta parta escrever alguns versos rimados no meu jeito caipira e que você diz que gosta, vou transcrevê-los ao final desta carta. Estou sentindo outra vez aquela sensação de egoísmo por estar vendo tanta beleza e não estar compartilhando com você estas maravilhas. Procurei aquela estrela que nós dissemos ser nossa, ela está mais brilhante hoje, ou talvez seja a saudade que me faz ver seu brilho estampado nos seus raios fulgurantes. Senti a pouco o seu perfume, quando você acaba de tomar banho, e se faz coquete para atrair seu macho para fazer amor. Deve ser o perfume das flores do campo de onde certamente você tirou este cheiro gostoso que lembra a natureza exalando os seus odores misteriosos sob a luz dos astros. Ah como gostaria que estivesse aqui para nos amarmos.

Agora vou parar e colocar esta carta no correio, antes de ir para casa escreverei contando o resto da aventura onde corremos grande perigo, diante de um pistoleiro.. Felizmente nada grave aconteceu.

Beijos minha querida, muitos beijos com saudades deste que a ama e não deixa de pensar em você um só instante, com carinho.

Miro

Preliminares

Valdemiro Mendonça

Ah este teu cio tão cheiroso que fica me acendendo,

Tua mão macia acariciando minha nuca levemente.

Enquanto tua língua quente e teus lábios vermelhos,

Comem a minha boca na volúpia de um beijo ardente.

E este teu jeito tão sem vergonha de me provocar,

Como se fosse à dona exclusiva da minha vontade.

Vai me tesando e bolinando até me ver despertar,

E percorrendo os caminhos que levam a felicidade.

Perdidos nos ais e nos suspiros dos pornos momentos,

Prepara-me para o seu banquete de luxúria e devassa.

Fundindo-te ao meu corpo presa por um só filamento,

Levando-me a loucura que finda num estado de graça.

A modorra teima em levar-me a os braços de Morfeu,

Procuro me entregar à magia da inconsciência e langor.

E novamente me revives na malícia dos carinhos teus,

Para matar-me outra vez em suspiros e nos ais de amor.

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 18/04/2012
Código do texto: T3619362
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