CARTAS PARA CLENIR III

Belém/PA: 02.10.2001.

Minha querida Clenir,

Os dias que aí passei foram como uma injeção de ânimo para enfrentar uma nova etapa desta jornada sem data para terminar. Continuamos aqui nesta cidade de sonhos, ainda sem uma previsão de quando voltaremos á busca da cidade perdida, ou o que chamam de eldorado, embora muitos residentes aqui afirmem que, isto é apenas uma lenda surgida desde os tempos imperiais, mas até hoje sem qualquer indício real de sua existência.

O chefe da expedição convocou hoje uma reunião, para informar sobre uma possível viagem de alguns de nós até o recôncavo Baiano, para efetuar um estudo sobre o desmatamento desenfreado dos manguezais por indústrias carvoeiras. Vou pedir para acompanhar a equipe, poderia morar aqui por muito tempo sem reclamar, a cidade tem atrativos que não existem em qualquer parte do planeta e, acho que muitas pessoas gostariam de estar no meu lugar para conhecer estas maravilhas que tocam a alma e oxigenam a mente.

Uma delas é uma chuva que cai sempre no mesmo horário, e serve de parâmetro para os habitantes da cidade. Acho engraçado vê-los marcando encontro antes ou depois da chuva, como se jamais ela tivesse deixado de estar presente, e fizesse parte permanente da vida dos moradores. Outra é a festa do Sírio de Nazaré que acontece no segundo domingo de outubro, fiquei maravilhado de ver tanta gente unida e dando mostra de grande religiosidade, de acordo com dados da prefeitura, mais de um milhão e meio de fiéis se reuniram para as comemorações na festa da padroeira do estado do Pará.

Acredito que se você aqui estivesse, saberia aproveitar melhor a festa do que eu, que fico apenas olhando. Se você estivesse comigo, teríamos também puxado a corda da penitência e assistiríamos as missas dedicadas ao povo trabalhador. Depois participaríamos dos jogos nas quermesses, e teríamos muitas coisas para contar aos nossos netos e despertar neles o sentimento de amor a esta nação brasileira, e um maior amor a nossa generosa pátria, que dá abrigo a seres humanos tão valorosos e dignos como é o povo paraense.

São tantas coisas para ver, e é muito difícil lhe contar tudo por carta, acho que só vou lhe dar uma idéia mais precisa quando regressar de novo para casa. E olhe que depois de estar nos seus braços e passar dias tão felizes junto das nossas crianças e amigos, está difícil ficar longe. A todos os lugares em que vou, fico pensando que seriam ainda mais lindos se estivéssemos vendo juntos, pois sua presença é o que completa minha visão do belo, fazendo tudo á volta se transformar em obra de arte. Quando você faz parte da paisagem, toca minha alma e ajuda aflorar a minha sensibilidade, aguçando o meu amor para a beleza da existência.

As coisas mais simples ganham importâncias imensuráveis se vistas com os seus olhos, que me ensinam como enxergar uma miríade de cores e linhas em um seixo de rio, ou nas asas das borboletas que, vistas apenas por mim, eu acharia sem graça e cor. Talvez seja esta a formula que fez minha alma ficar presa junto a sua aura de luz transcendente, e faz as distâncias serem maiores quando você não está perto de mim, se sua mão me toca, é com se me chegasse de repente á força e a segurança para vencer os obstáculos e fazer á vida ser maravilhosa.

Quando ler estas linhas é possível que eu esteja em algum outro lugar distante, mas creia-me, sua imagem estará nos meus pensamentos, e meus pensamentos serão escravos da sua lembrança, pois ela é o alento que me ajuda a caminhar por sendas desconhecidas, com a fé de que tenho um motivo para ver, vencer e voltar. Porque onde você estiver, está minha vida, minha paixão, meu amor e minha razão de existir.

Beijos sempre. Miro.

VOCÊ

Ao lado do meu caminho

nas pétalas da linda flor,

o matiz muito acentuado

fazem-me lembrar sua cor.

Deve ser a cor da saudade

com pigmentos de carinho,

trazendo-me sua lembrança

para não sentir-me sozinho.

E assim vamos caminhando

andando ao sabor do vento,

eu viajo com sua lembrança,

e a levo no meu pensamento.

Nas noites frias dos montes,

ou nas horas de muito calor.

Vou estar sempre confortado

na lembrança do nosso amor.

FIM

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 18/04/2012
Código do texto: T3619344
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