CARTAS PARA CLENIR II
20/07/2007
Valdemiro Mendonça
Belém/PA: 28.07.2001.
Minha querida Clenir,
Estamos numa cidade fantástica chamada Belém e, embora quisesse, acho que não conseguiria lhe descrever todas as belezas desta metrópole. Ela parece feita com alicerces de amor, o povo extremamente gentil, demonstra querer com sua hospitalidade, que as pessoas não saiam mais do meio deles, e esta é a minha vontade, se você estivesse aqui, certamente eu ficaria, pois se amo tanto nosso querido estado das minas gerais, aqui estão as coisas que eu gostaria, e sei que você também, de aprender a cuidar e preservar.
Sei que também iria amar tantas maravilhas, que só um poeta poderia descrever. minha pobre dialética pode apenas dar-lhe uma ideia do paraíso que é esta cidade construída no meio da grande floresta amazônica, e cuja riqueza é este povo, sua cultura, seu amor pelo país e sua grande criatividade para construírem um mundo de beleza somadas as grandes maravilhas da natureza, pródiga em criar tantos colossos de montanhas verdes, águas cristalinas, fauna incontável, assim como é indescritível a flora.
Nossas andanças pela selva estão temporariamente suspensas, pois se inicia em breve o período das grandes chuvas, quando lhe escrevi a ultima carta, estávamos seguindo ordens de fazer contato com uma tribo de índios que eram nômades, mas agora, devido a ataque de viroses que, certamente fomos nós, os homens impuros, que lhes transmitimos, causando a morte de muitos indivíduos, homens, mulheres e crianças, foram obrigados a mudar sua maneira de viver e aceitar a tutela do governo que lhes destinou uma área onde se pensa em fortalecer a tribo e estabelecer-lhes uma reserva.
O órgão que nos contratou quer saber destes índios, que afirmam conhecer as ruínas do que parece ter sido uma grande cidade, e se poderíamos conseguir que nos levassem ao tal lugar. Foi muito difícil obter a permissão do órgão responsável pelos índios para esta visita, mas como nossa pesquisa é de interesse do governo brasileiro, concordaram, desde que antes fizéssemos todos os testes para detectar qualquer doença transmissível a eles. Um dos guias estava com uma tosse comprida e chamada “tosse de cachorro” e não pode nos acompanhar, felizmente o Sr. Basílio foi conosco, ele sabe muitas línguas e dialetos indígenas e foi quem se comunicou com o povo da aldeia.
Quando chegamos à aldeia, fomos recebidos com alegria pelos índios, fiquei um pouco emocionado quando vi os índios nus e sem nenhum constrangimento nos cumprimentando, e as lindas crianças puxando-nos para ir com eles tomar banho no rio que passava ao lado da taba, confesso que tive vontade de tirar a roupa e andar pelado também, pois só havia visto isto no cinema, e nenhuma câmera jamais conseguirá mostrar a beleza e pureza dos nossos irmãos índios, mas o agente da FUNAI que nos acompanhou foi categórico, e disse não ser permitido, o máximo possível era ficar de bermudas ou short. Infelizmente nossa tentativa malogrou, os índios se prontificaram a nos acompanhar ao local, mas só depois que as chuvas cessarem e a água dos igarapés ficarem rasas, saímos de lá, mas com vontade de ficar, não para ensinar, mas para aprender com eles a pureza do viver na natureza.
Vamos permanecer aqui durante as cheias, e espero antes de voltar à floresta, ir para casa e ficar por pelo menos duas semanas. Sei que o fato de nossos filhos estarem estudando, não terão como me acompanhar, por isto tentaremos matar a saudade e esperar que meus trabalhos sejam depois deste, mais perto do nosso estado e de vocês, e quem sabe um dia, possamos vir aqui, mesmo a passeio, para eu lhe mostrar e aos nossos filhos todas as imagens que meus olhos estão vendo e minha mente está gravando, pois tenho medo que nossos bisnetos não tenham este privilégio, e se mostramos este mundo encantado aos nossos filhos, eles talvez abram os olhos, se vistam de verde e amarelo e pintem o rosto de azul e branco para protestarem contra a destruição do paraíso. E os nossos descendentes possam ter uma chance de conhecer o céu.
Até breve amada minha, a saudade tem me torturado e meus versos falam de saudade, minhas rimas são lágrimas que caem e se parecem com gotas de orvalho que sem formar palavras, dizem numa frase sem som... Eu amo você.
Valdemiro Mendonça
- o trovador -
Meu curumim
É uma orquestra de agudos gritos
Na afinada algazarra bem juvenil
Que sem a maldade e os conflitos,
Cantam seus sonhos mais bonitos
De terem um pedaço deste brasil.
E nós vamos sempre enganando,
Os invasores lhes fazendo guerra.
O tempo das gerações passando
E nós civilizadamente dizimando,
Os verdadeiros donos desta terra.
Matamos com a nossa ganância,
Pelas riquezas das suas reservas.
Maculamos a sua tenra infância,
Na bestialidade desta ignorância
Destruindo a vida das suas selvas.
E na cobiça do eu sempre quero,
Comem o fruto sem estar maduro.
Extinguindo-me “eu o índio” espero
Que apareça um governo severo,
Para possa garantir nosso futuro.
Valdemiro Mendonça
- o trovador -
Olá amigos!!
Não fiz uma apresentação do novo tema da minha postagem, mas fiz muitas viagens por este Brasil de meu deus. Recentemente estive relendo algumas cartas que eu escrevia para minha esposa. Selecionei algumas que vou descrever aqui, não são cópias fiéis, pois as cartas sempre tiveram a função de dar noticias, e nas minhas eu aproveitava para contar algumas coisas do meu trabalho, nem sempre podia dar detalhes, por ser de sigilo exigido pela empresa, pelo menos nesta empresa, outros trabalhos e em outros lugares, contarei com mais liberdade, e espero que quem ler goste.
São simples cartas, mas antes do computador, era como nós, de outra geração, nos comunicávamos e registrávamos nossas viagens e experiências. E computador para o Miro começou bem tarde...
Um abraço a todos, por favor, deem sua opinião.
Trovador