No More Crying - II
Domingo pela noite separei suas coisas e fui direção a estação Sacomã para te devolver.
Não foi muito fácil tendo em vista que me tornei um pouco diferente do que estava habituado antes de você aparecer naquela tarde para mostrar o quanto é boa na cozinha.
Eu tinha vivido um final de semana focado nas coisas da gravadora/produtora.
Contudo, acordar e ver aquele chinelo que usou na praia me encarando destruia algo que não sei classificar dentro de mim.
Em relação aos dias que vivemos considerei desrespeitoso não te encontrar (antes tinha outra opinião porque inicialmente isso me traria uma certa dor - não pequena).
E tenho certeza que meus olhos baixariam como da última vez que te vi.
Ao chegar na estação, resolvi passar num bar e pedir umas bebidas.
Pensei bastante e caminhei até um lugar que sentamos uma vez que você estava triste e chorou.
Todo lugar que estivemos juntos me trás diversas sensações.
Fui num orelhão e liguei no seu apê.
Disseram que você não mora mais lá.
Eu fiquei um tempo pensando em todo esse processo.
Nunca pensei que ia chorar por isso, sabe?
Chorar... Um homem feito chorando porque não sabe o que tem no peito.
Lembrava das vezes que pousava meus olhos aos seus.
E você perguntava: O que foi?
Nem você sabia.
O quanto não sentir nada tinha sido meu escudo durante anos.
E como abri as portas do meu mundo...
No fundo, nós sabíamos que uma hora a maré ia mudar.
Eu sou um velho já, alguém que negligenciou dias que dividi contigo por muito tempo com medo da dor.
E agora tudo que tenho são escaras abertas.
Não há um dia que não acorde pensando em você.
Não há uma noite que eu não vá dormir pensando em você.
Como diabos nós podemos controlar as coisas que sentimos?
Havia muito a ser dito.
Apesar de tudo que foi dito.
Sim, falhamos.
Mas, isso faz parte de ser humano.
O que importa é que o tempo não vai destruir tudo que você me fez sentir e e sou muito grato por isso.
Vou guardar a vez que segurou minha mão no bus.
A receita do mousse de morango.
A nossa primeira vez.
Nossas "compras".
Sair correndo para te buscar...
Muito obrigado, Stela.
Eu amo você!
Ao som de "No More Crying", de The Slackers.