Sempre fui compelido a ficar preso a prazos, a horas, ao tempo e tudo o mais.
Talvez por ter iniciado minhas atividades profissionais muito cedo, bem antes do devido e do esperado e por ter tarefas de responsabilidade sempre a mim atribuídas e devidamente exigidas em seu devido momento.
Creio que a partir daí esta minha forte ligação com o tempo e com tudo o que ele representa, em questões de segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, irremediavelmente atado a estes marcadores, irremediavelmente preso aos algarismos, aos números e todas as suas consequências.
Fortemente ligado a responsabilidade isto sim, devo reconhecer, não a estes marcadores, que na realidade apenas são isto, marcadores, sinais, balizas, do que está sendo feito, já foi realizado e ainda há necessidade de ser executado.
Talvez por isso mesmo tenha sido apreendido nestas armadilhas do tempo, em que nos vemos em situações de conhecer ou desconhecer pessoas e suas sensibilidades ou até mesmo a falta disto, - de suas sensibilidades -, de termos aquela sensação de estarmos sempre ou muito adiantado ou muito atrasado em relação a tudo o mais fora das atividades profissionais, estritamente na vida pessoal, emocional, sentimental, parece que nunca estamos na hora certa, sempre estamos com aquela sensação de estarmos pleno do vazio, vazio de amor, de sentimentos, de carinho, de compreensões, de amizades, tudo isto de vital importância para a nossa existência como seres humanos...
É o prêmio, quem sabe, pelo exagero de certas atividades - as profissionais - em detrimento de outras, tão ou mais importantes - é a responsabilidade incutida e cobrada cedo demais para alguns e para outros não,não sei se por uma razão maior ou menor, ou por uma falta de personalidade ou de caráter em não ter obtido o discernimento para saber como todas estas facetas devam ser devidamente dosadas e administradas.
E aí caímos em armadilhas temporais de tudo termos feito e de nada termos realizado, de termos no balanço final apenas isto, o absoluto e total vazio, de nada ter restado, de nada ter ficado, para o lado humano, do coração, dos amores tidos e tristemente perdidos, de se perder tudo, de se perder até mesmo a mínima autoestima.
Tudo escorre em minhas mãos, como água, como as águas daquele rio-mar em que um dia quente de dezembro quase perco minha vida, nem naquele trágico e rápido momento não aprendi a lição...
Quem sabe por este motivo diz-se por aí que alguns vieram ao mundo a trabalho enquanto outros vieram ao mundo a passeio... E no caminho, quer no labor ou na diversão, vamos perdendo ou acumulando, adquirindo ou deixando no trajeto muitas e muitas bagagens...E no fim da jornada estaremos em excesso ou em falta...E o tempo, medido por algarismos, por números, matematicamente, continuará sua implacável marcação não esperando por nada nem por ninguém.
Por isto está na canção, é o que fazemos a nós mesmos e por isso a vida pode ser breve ou longa, o amor pode ser certo ou errado, trata-se de escolha e temos que optar, escolher um caminho a seguir ou não, mas temos que ao menos tentar...