Rancor apaixonado
Todo o seu castelo ruirá. Ou não, algumas pessoas têm o dom de manter as aparências, mesmo quando não resta mais nada além de cinzas. Essas cinzas se apoderaram de você antes mesmo do seu castelo ruir. Tomaram conta da sua luz e da minha quando estou perto. O sol não adentra mais a sua janela. Seus olhos, opacos e distantes, não conseguem enxergar todo o esplendor do vento soprando as árvores. Nenhum farfalhar de folhas verdejantes você é capaz de ver. A sua alma foi cegada pelas cicatrizes que o tempo fez no seu coração. Cicatrizes nunca estancaram e o suor delas fedem. Quando me vejo perto, nem respirar eu consigo.
Tenho medo do que pensar sobre você. Sorrisos sempre obtusos, fala mansa. Parece sempre esconder o verdadeiro. Espio por entre os seus olhos e vejo dor. Algo parece ter afetado você e você, consequentemente, afeta os demais. Quando te olho não te encontro. Parece-me reprimida. O seu eu nunca é visto, pelo menos não pelos do seu convívio. O medo sobrevém o meu sorriso, não te quero mais do meu lado. Nada é possível quando se tem medo. Eu viverei sem você! E você? Viverá sem mim?
Calam-se as gralhas ao ouvir os teus passos, pois nem elas suportam toda a sua altivez. Cresceu o seu ego, inflando a sua ilusão de poder e conforto. Toda a sua “glória” vindoura não durará pra sempre, a luz da manhã há de entrar por entre as frestas que se formaram ao redor da nuvem carregada que é você.
Suas palavras fedem como peixe e como peixe você perecerá; pela boca. Boca maldita, boca dissimulada. Renegou, feriu. Perdi a batalha. E não se preocupe com a demasia do rancor, ele não lhe fará mal. Apenas deixou-se levar pela paixão.