Eu lírica e a maior idiota do mundo

Não sei se tu me reconheces, mas sou você adulta. Uma espécie de mãe, apesar de tu sempre teres tido responsabilidade o suficiente para cuidar de si mesma. E é justamente sobre isso que eu quero conversar… Sinceramente, achei que tu serias mais forte, e não fosse precisar derramar tantas lágrimas durante a vida. Na verdade, acho que parte disso foi culpa minha, não é mesmo? Acabei por chegar de surpresa e antes da hora, e deveria tê-la entendido quando ao me fitar no espelho, tu disseste que não queria caminhar junto a mim. Era meu dever partir e só voltar quando tu me chamasses, alegando estar pronta. Mas achei que se fosse assim, tu nunca me gritaria...

Espero que tu não me leves a mal, mas preciso te dizer que esses sonhos que tu costumas ter enquanto assiste à aula de matemática, não se realizam. É, não há nenhum cara pra envolver os dedos no seu cabelo bagunçado, nem um livro com um título interessante, seguido pelo teu nome na capa, reservado na seção de Best Seller da Livraria. Tu nunca deste uma chance a si mesma e por isso o amor não quis entrar em nossa casa. Inclusive, depois de um tempo, mesmo que quisesse, ele não conseguiria, pois tu te criaste em um novo lar, feito de frios tijolos de cimento, e sem nenhuma ventilação natural.

Tu perdeste tudo, também. Achou que isso jamais aconteceria, pois, tu eras uma boa pessoa. Aí saiu correndo, chegou à beira do abismo, e não se jogou. Deu apenas umas bofetadas no rosto, e sussurrou para si mesma: “Se existe um Deus, e ele é tudo isso que tanto falam, nem em seu universo ele merece conceber-me.” e enxugou os inchados olhos castanhos.

É, tu falhaste em tudo. Não sei se um dia serei capaz de lhe perdoar por ter aceitado a melancolia e desistido de você. Tantas vezes tu ouviste que precisava fazer algo por você… E tudo que tu realmente fez foi ignorar os avisos. E eu, que sempre imaginei que chegaríamos a Presidente da Academia Brasileira de Letras, estou hoje decepcionada.

Não quero mais tomar o seu tempo. Acho que tu a vida inteira filosofaste prolixamente sobre isso tudo, não é mesmo? Este está sendo um dos nossos mais bonitos e singelos encontros, apesar da verdade estar estampada nessa carta. Obrigada por me permitir entrar dentro de ti e me fazer ser ouvida. Sei que foi difícil, mas já estava na hora de parar de fugir. Talvez agora, tu te encontres.

Não esqueça que estarei sempre aqui, para segurar-te a mão e trilhar o nosso caminho, mesmo que esse esteja repleto de espinhos. E seguiremos juntas.

Ame-se.