Carta para a Amada
 



 
            Senti por três dias seguidos a aridez da tua ausência, querida!  Evitaste o contato comigo, triste que estavas. Tiveste a honestidade de me dizer de tua tristeza.
            No entanto, a residência do meu coração sempre esteve com as portas abertas para entrares, sem precisar pedir licença.
            Sei que não posso forçá-la a me visitar. Sem espontaneidade, o amor não surge. Este passo em direção a mim  só tu podes dar. Resta-me pacientemente esperar que este dia chegue. Nenhuma força do  mundo, nem a poesia, nem a mais espetacular música poderá fazer-te vir a mim.
            Poderás ver a força do meu amor no brilho do sol, nas estrelas que brilham no céu, nos lindos matizes de verde das florestas, na água límpida das cachoeiras, no perfume das flores.
            Toda a beleza do mundo não será capaz de fazê-la enxergar o meu amor por ti. Há que ter algo mais, um sentimento maior, é necessário, querida, que tenhas na alma o poder de arrebatamento, de deslumbramento  com a vida que pulsa sem parar, eternamente, à nossa volta.
            O amor é isso: extasiar-se, encantar-se, um terno enlevo. Só assim estaremos prontos para penetrar no salão nobre do amor.
            No amor não há trocas, não se faz concessões, e muito menos se barganha.
            O amor é ou não é!  O amor não tem leis, dogmas, não se prende a nada, é livre para amar.
            Assim, querida, sem nada pedir, aguardo o fim do teu tatear nas sombras das incertezas. Como num relâmpago que clareia tudo, tua alma enxergará, repentinamente,  o teu amor por mim. É só o que posso almejar!
            E neste dia, cujo acesso só permito a ti,  entrarás  e conhecerás o íntimo do meu  coração, que sempre esteve com as portas escancaradas para penetrares e tomares conta do que sempre te pertenceu.