CARTA A SÃO PAULO

Brasil, vinte e cinco de Janeiro de dois mil e sete,sob um céu cinzento,duma linda manhã ensolarada.

A minha querida cidade:

Não faz muito tempo, escreveste-me que tinhas medo. Medo de crescer, medo do progresso, medo da violência, medo da senilidade.Enfim...medo da vida!

Esclareço-te que demorei em te responder, pois quando somos crianças, não conseguimos entender certos temores.Tudo nos parece flores.

E era assim que te enxergava... dócil, ingênua e amorosa, um jardim de braços abertos a albergar o mundo!

Jamais poderia imaginar que no teu cerne, pulsavam os medos de toda e qualquer cidade grande.

Porque só eu é que era “a pequena”, e tu não eras... “qualquer”!...Tu eras a minha cidade!

Então, tive que andar no tempo, e nele retroceder a buscar o passado, não tão remoto, mas época em que florescias na adolescência da tua vida, para alegrar a minha...e tantas outras infâncias.

Apenas hoje, consigo te compreender.Tinhas toda razão em pulsar o medo.

Lembro-me sim, lembro-me que eras névoa, eras “-bom dia!”, e bons dias mesmo!... eras elegância, eras oxigênio,eras família,eras calçadas tranqüilas, onde crianças apenas brincavam, olha só!...eras calmos bondinhos que decoravam os trilhos da vida!

E onde estão aquelas linhas;por quais trilhos seguistes, minha querida cidade?

Quero que saibas, que muito penso, e muito me preocupo contigo.

Às vezes, olho para as crianças esquecidas das tuas calçadas de hoje, e concluo, que igualmente a elas, crescestes sem diretrizes!

E como é difícil a vida sem planejamento!E o que dizer então, do futuro?

Não sei! Gostaria que soubesses que também, igualmente a ti, sinto medo e muita, muita saudade! E que se sofres, tenhas certeza, os que te amam, contigo sofrem muito mais!

Mas por falar em amor, me impressiono com a tua capacidade de amar.

É comovente o teu altruísmo, nesta tua adversidade!

E talvez seja por isto que esta difícil palavra rime com “cidade”...

Que duras rimas , as da poesia de hoje!

"Alguma coisa acontece no meu coração..."

E no meu também!

Onde está você...SAMPA? Onde?

E eu, eu estou aqui.Mas estou de partida, minha querida cidade.E nas entrelinhas dos meus versos...(e veja o milagre, igualmente a ti,ainda consigo versejar!), quero que saibas que tu não estás, e jamais estarás sozinha.

Tua alma seguirá comigo, no cerne dos meus poemas, a versejar pela nossa eternidade.

Mas mesmo assim,te mandarei notícias.

Sejas feliz!

Ainda que...na brevidade dos versos de hoje.

Da tua assustada filha...

Maria Virginia