Detalhes invisíveis
Amiga Nena,
Muitas lembranças invadem meus pensamentos. Umas minhas, outras de outras pessoas, de situações, de momentos...
Ora vejo a infância, ora a juventude, ora a melhor idade. Em cada fase dessas histórias inacabadas, frases que não foram concluídas, sentimentos que não foram vividos, sentimentos que fluíram sem frutificar. Cada verso, cada anverso notou respingos de uma frase que jamais irá completar-se. Momentos houve em que jamais foi dito um "-Estou aqui!".
Veja bem, os olhos sempre vêem mais do que olhamos, é bem verdade. Imagine que um casal amigo nosso separou-se, o amor acabou por parte de um e a relação esfriou, mesmo havendo um grande amor por parte do outro. o que lhes faltou, amiga, cumplicidade, amizade, companheirismo, amor? O que lhes preencheu nessa hora? Neste talvez a sensação de liberdade, aquela que é pura fachada. Naquele, talvez, a sensação de falta de chão, de sensibilidade, de sangue nas veias, de história, de memória. O que faz com que as coisas terminem desse jeito? Amor não se vende por quilo em supermercado ou feira livre!
Dor imensurável foi ver uma menina, na flor de sua mocidade, acabando de nascer para uma nova etapa de sua vida aparece grávida e falando de relação sexual como falávamos das bonecas que queríamos, dos brinquedos que nossos pais nunca puderam nos dar e criávamos os nossos de qualquer coisa, até mesmo de capuco de milho e vidros de remédio vazio. O pior e mais assombroso é a riqueza de detalhes que deveriam ser íntimos que ela esbanja para que todos ouçam e comentem. Onde perdeu-se a inocência?
Sem querer ser heroína, mas necessitando falar sobre isso também, imagine alguém cortando uma árvore..... quase dá para ouvir gritos e gemidos de dor. Amiga, a fome de poder é tamanha, que a cegueira humana ultrapassa todos os limites da razão e eles,os humanos, cometem as mais absurdas afrontas contra a vida. Tal qual marido que trai, tal atitude revela um mundo sem perspectiva de sobrevivência. A mídia, com todo seu "poder construtivo e educativo" apenas ensina o lado oposto do que deve ser viver. Assim todos somos reféns de nós mesmos, pois somos nós quem criamos a mídia e a disseminamos.
Percebe, amiga, quanta coisa ficou sem dizermos uma ao outro, uns aos outros, nós conosco mesmo. Isso é apenas o começo.
Beth Ferreira