CARTA AO MEU AVÔ
Sapezal, MT, 30 de outubro de 2008.
Oi vô,
É seu neto mais velho tudo bom? O senhor já sabe né? Pois bem... realmente as cartas são insubstituíveis com toda a tecnologia que se tem atualmente. A expectativa, a lembrança e a alegria de receber uma sempre são ímpares. Fica como nos velhos tempos. Digitei-a pois acredito que fica mais fácil de ler.
Estou como sempre no interior do estado, a trabalho. Queria falar de mim mas saber do senhor também, me preocupo, ficas muito só. Quem sou eu pra dizer isso com toda experiência de vida que tu tens, mas sempre acredite na vida, ela sempre vale a pena, não que esteja sendo diferente, mas por pouco que nos vemos, nos amamos, admiramos, talvez não na sua totalidade no meu caso específico, mas não vem ao caso. O fato é que sempre serei a mesma pessoa aqui ou acolá, independente das escolhas.
Lembro muito de todos, tenho fotos, várias delas remetem a saudade que tenho do Rio Grande, até mesmo quando estou com ele. É difícil explicar, escrevo bastante sobre meus sentimentos, mas por enquanto ficam em meu domínio e alguma coisa na internet. Tenho uma reunião de contos, poesias e sonetos, chama-se Lágrimas do Rio Grande, e um romance em andamento, pouca gente se interessa hoje em dia, mesmo assim tentarei publicar. Mando duas das minhas mais recentes pra você ler. Me adaptei como sabes até bem em Mato Grosso, já são oito anos, faço o que gosto, me estruturei, mas a terra da gente sempre é o ideal. É pena que meus irmãos não tenham assim essa relação tão forte como eu, já são outros valores, todavia sei o quanto eles tem saudades da família também.
A Elise continua trabalhando no banco, eu na universidade e o Pedro tinha começado como aprendiz numa empresa de cobrança, mas não deu certo. Vai estudando, melhorou um pouco as notas, continua respondão, mas mais controlado. Sinto que ele não possa ter ficado naquela oportunidade, chance esta de conviver mais com o pai (seria bom pra personalidade dele), de novos ares, culturas, enfim. Mas compreendo também os motivos e sei que foram justos. Ajudo a Elise com a universidade, sei como é difícil se formar. Eu estou fazendo mestrado em Asuncion do Paraguai, existe um convênio internacional por lá, meu segundo nível de pós graduação, é um objetivo grande que tenho e a algum tempo queria concretizar, felizmente consegui, na área de administração.
Quem sempre pergunta do senhor e do pai é o meu padrinho Attílio, ele teve alguns problemas de saúde, está morando na Várzea Grande (eu já moro em Cuiabá) e tocando um pequeno comércio ainda, mesmo aos 74 anos de idade. Vou fazer meu aniversário lá em dezembro. Gosto muito deles e sempre os visito assim como meu avô Macedo, mas este não é tão participativo assim com a família (risos). Por influencia dele comecei a freqüentar a filosofia da Seicho-No-Ie, gosto muito, me identifiquei, melhorei muitas das minhas atitudes com os ensinamentos, mesmo não sendo tão “fervoroso” quanto meu avô. A mãe também não é novidade, estava trabalhando com política, eu havia conseguido sala de aula pra ela, mas não ficou muito tempo. Sempre comenta que gostaria de ir até aí pra sair e dançar com o senhor. Digo essas coisas sempre de forma muito saudosista, lembro da minha avó, tenho um porta retrato, enfim, devemos pensar nas pessoas e coisas que nos fazem bem não é verdade? Eles ainda precisam sim de ajuda financeira, faço o possível, levo compras, enfim, o pai está ajudando agora mais regularmente com o que pode também. A vó Neiva ta lá na vidinha dela, vai fazer 70 ano que vem também, vai pra Goiânia com o marido final do ano parece. Recentemente tivemos que trocar o tumulo da minha bisavó (que assunto chato) porque o primeiro era público agora é definitivo, coloquei tudo no meu nome e lá está ela. Agora estamos fazendo a base de concreto. Foi muito engraçado e ao mesmo tempo estranho levar a caixa lacrada com os restos mortais no próprio carro.
Mudando de assunto, estou bem aqui posso dizer, mas depois que estiver com meu currículo mais “gordo” de títulos quero procurar colocação no sul, quem sabe em santa catarina, estou tendo algumas influencias de lá, mas é projeto pra frente. Aliás, gordo estou eu né, com 98 quilos agora. Faço o possível, nem sempre, mas tento, pra não passar muito disso já que emagrecer é complicado, vivemos em restaurantes e hotéis. Levanto cedo pra fazer uma caminhadinha, mas no almoço um rodízio vai bem (risos).
Mudei-me recentemente pra um apartamento mais perto da faculdade, mais centralizado, estou organizando as coisas ainda. O carro vou trocar ano que vem, estou gastando muito com mecânica. Mas não quero falar de despesas. Como estão os preparativos para o final do ano? Gostaria bastante de ir mas não sei se será possível mais por uma questão de tempo mesmo, pois dia 05/1 já recomeçam meus módulos do mestrado. Mas veremos se alguém vai. Queria que vocês me ligassem mais também, estou sem fixo agora por causa da mudança, sempre falo para o pai me ligar, as vezes ele lembra, mas conheço a forma de gostar dele, quando tem saudade ele liga, não que não tenha sempre, imagino. E o senhor também vai se mudar? É difícil deixar sua casa não é mesmo? Imagino. Queria passar uns dias aí fora de época, fazer um café da manhã pro senhor de vez em quando, assistir a novela mesmo alto não importa, tudo isso motivado pela saudade.
E tia Denise, as meninas e o tio Nelton (que também é meu “dindo”)? Penso que estão bem, tenho poucas notícias. Vou ligar lá. Ela me chama de “meu guri”, gosto bastante, essas pequenas coisas me fazem falta. Mande um abraço gigantesco meu a eles, diga o quanto os gosto. Melhor parar de falar essas coisas, ainda estou ouvindo Frank Sinatra, imagina... Sou bastante emotivo. Mas sei ser racional na hora que precisa. Tia Edith vai bem? Aqueles cafés praticamente coloniais que ela serve são ótimos, também remeta minhas lembranças. Tem falado com a Rosane e o Bernardo? São gente muito boa, apesar do que aconteceu. Lembro bastante da Eunice, de como apesar dos contratempos vocês se amavam, tu lembras contei daqueles sonhos em que ela aparecia seguidamente pra mim, vinha te buscar me parece, fiquei muito assustado mas já passou. São fases da vida da gente mais atribuladas psicologicamente. Repito, não sinta-se abatido pela falta dela, tens seus filhos, sua irmã e acima de tudo sua vida pra dar continuidade, e temos na verdade obrigação de fazermos isso muito bem.
Enfim vô, sabe o quanto te gosto e te admiro, muito da minha personalidade é sua, tu sabes. A veia econômica principalmente. Até o Adam eu herdei, só que na versão alemã que deveria ser sua. Sempre respeito meus superiores, sou gentil, enfim também não sou tão perfeito assim ninguém é, mas isso sempre o senhor me ensinou, me orientou. Aprendi a controlar minhas finanças e a ser independente aí com vocês. Que este papel leve algumas gotas de lágrimas que estão sobre a minha face agora. Mas muitas são de alegria de poder escrever, de ter uma família tão interessante. Gostaria de dizer muitas outras coisas mas deixo que o sentimento explique. Gosto tanto das letras mas me dedico aos números e a contabilidade. A vida apresenta dicotomias que nem a gente explica. Caminhos que nem sempre são os ideais. Mas temos que agradecer a tudo e a todos aprendi isso e acima de tudo saber respeitar as pessoas, porque ninguém vive sozinho, e nós, mesmo a distancia, sempre estamos próximos de alguma forma. Quando quiser e puder vir a mato grosso, não é um bicho de sete cabeças e nenhum fim de mundo ta? A gente liga o ar e se refresca sem problema (risos). Será um imenso prazer, pode ficar na minha casa. E isso serve pra meu pai, a Lúcia, enfim, todas as pessoas que eu gosto.
Mas agora basta, alegria, alegria! As férias estão chegando. Fique com Deus hoje e sempre.
Do Neto,Sapezal, MT, 30 de outubro de 2008.
Oi vô,
É seu neto mais velho tudo bom? O senhor já sabe né? Pois bem... realmente as cartas são insubstituíveis com toda a tecnologia que se tem atualmente. A expectativa, a lembrança e a alegria de receber uma sempre são ímpares. Fica como nos velhos tempos. Digitei-a pois acredito que fica mais fácil de ler.
Estou como sempre no interior do estado, a trabalho. Queria falar de mim mas saber do senhor também, me preocupo, ficas muito só. Quem sou eu pra dizer isso com toda experiência de vida que tu tens, mas sempre acredite na vida, ela sempre vale a pena, não que esteja sendo diferente, mas por pouco que nos vemos, nos amamos, admiramos, talvez não na sua totalidade no meu caso específico, mas não vem ao caso. O fato é que sempre serei a mesma pessoa aqui ou acolá, independente das escolhas.
Lembro muito de todos, tenho fotos, várias delas remetem a saudade que tenho do Rio Grande, até mesmo quando estou com ele. É difícil explicar, escrevo bastante sobre meus sentimentos, mas por enquanto ficam em meu domínio e alguma coisa na internet. Tenho uma reunião de contos, poesias e sonetos, chama-se Lágrimas do Rio Grande, e um romance em andamento, pouca gente se interessa hoje em dia, mesmo assim tentarei publicar. Mando duas das minhas mais recentes pra você ler. Me adaptei como sabes até bem em Mato Grosso, já são oito anos, faço o que gosto, me estruturei, mas a terra da gente sempre é o ideal. É pena que meus irmãos não tenham assim essa relação tão forte como eu, já são outros valores, todavia sei o quanto eles tem saudades da família também.
A Elise continua trabalhando no banco, eu na universidade e o Pedro tinha começado como aprendiz numa empresa de cobrança, mas não deu certo. Vai estudando, melhorou um pouco as notas, continua respondão, mas mais controlado. Sinto que ele não possa ter ficado naquela oportunidade, chance esta de conviver mais com o pai (seria bom pra personalidade dele), de novos ares, culturas, enfim. Mas compreendo também os motivos e sei que foram justos. Ajudo a Elise com a universidade, sei como é difícil se formar. Eu estou fazendo mestrado em Asuncion do Paraguai, existe um convênio internacional por lá, meu segundo nível de pós graduação, é um objetivo grande que tenho e a algum tempo queria concretizar, felizmente consegui, na área de administração.
Quem sempre pergunta do senhor e do pai é o meu padrinho Attílio, ele teve alguns problemas de saúde, está morando na Várzea Grande (eu já moro em Cuiabá) e tocando um pequeno comércio ainda, mesmo aos 74 anos de idade. Vou fazer meu aniversário lá em dezembro. Gosto muito deles e sempre os visito assim como meu avô Macedo, mas este não é tão participativo assim com a família (risos). Por influencia dele comecei a freqüentar a filosofia da Seicho-No-Ie, gosto muito, me identifiquei, melhorei muitas das minhas atitudes com os ensinamentos, mesmo não sendo tão “fervoroso” quanto meu avô. A mãe também não é novidade, estava trabalhando com política, eu havia conseguido sala de aula pra ela, mas não ficou muito tempo. Sempre comenta que gostaria de ir até aí pra sair e dançar com o senhor. Digo essas coisas sempre de forma muito saudosista, lembro da minha avó, tenho um porta retrato, enfim, devemos pensar nas pessoas e coisas que nos fazem bem não é verdade? Eles ainda precisam sim de ajuda financeira, faço o possível, levo compras, enfim, o pai está ajudando agora mais regularmente com o que pode também. A vó Neiva ta lá na vidinha dela, vai fazer 70 ano que vem também, vai pra Goiânia com o marido final do ano parece. Recentemente tivemos que trocar o tumulo da minha bisavó (que assunto chato) porque o primeiro era público agora é definitivo, coloquei tudo no meu nome e lá está ela. Agora estamos fazendo a base de concreto. Foi muito engraçado e ao mesmo tempo estranho levar a caixa lacrada com os restos mortais no próprio carro.
Mudando de assunto, estou bem aqui posso dizer, mas depois que estiver com meu currículo mais “gordo” de títulos quero procurar colocação no sul, quem sabe em santa catarina, estou tendo algumas influencias de lá, mas é projeto pra frente. Aliás, gordo estou eu né, com 98 quilos agora. Faço o possível, nem sempre, mas tento, pra não passar muito disso já que emagrecer é complicado, vivemos em restaurantes e hotéis. Levanto cedo pra fazer uma caminhadinha, mas no almoço um rodízio vai bem (risos).
Mudei-me recentemente pra um apartamento mais perto da faculdade, mais centralizado, estou organizando as coisas ainda. O carro vou trocar ano que vem, estou gastando muito com mecânica. Mas não quero falar de despesas. Como estão os preparativos para o final do ano? Gostaria bastante de ir mas não sei se será possível mais por uma questão de tempo mesmo, pois dia 05/1 já recomeçam meus módulos do mestrado. Mas veremos se alguém vai. Queria que vocês me ligassem mais também, estou sem fixo agora por causa da mudança, sempre falo para o pai me ligar, as vezes ele lembra, mas conheço a forma de gostar dele, quando tem saudade ele liga, não que não tenha sempre, imagino. E o senhor também vai se mudar? É difícil deixar sua casa não é mesmo? Imagino. Queria passar uns dias aí fora de época, fazer um café da manhã pro senhor de vez em quando, assistir a novela mesmo alto não importa, tudo isso motivado pela saudade.
E tia Denise, as meninas e o tio Nelton (que também é meu “dindo”)? Penso que estão bem, tenho poucas notícias. Vou ligar lá. Ela me chama de “meu guri”, gosto bastante, essas pequenas coisas me fazem falta. Mande um abraço gigantesco meu a eles, diga o quanto os gosto. Melhor parar de falar essas coisas, ainda estou ouvindo Frank Sinatra, imagina... Sou bastante emotivo. Mas sei ser racional na hora que precisa. Tia Edith vai bem? Aqueles cafés praticamente coloniais que ela serve são ótimos, também remeta minhas lembranças. Tem falado com a Rosane e o Bernardo? São gente muito boa, apesar do que aconteceu. Lembro bastante da Eunice, de como apesar dos contratempos vocês se amavam, tu lembras contei daqueles sonhos em que ela aparecia seguidamente pra mim, vinha te buscar me parece, fiquei muito assustado mas já passou. São fases da vida da gente mais atribuladas psicologicamente. Repito, não sinta-se abatido pela falta dela, tens seus filhos, sua irmã e acima de tudo sua vida pra dar continuidade, e temos na verdade obrigação de fazermos isso muito bem.
Enfim vô, sabe o quanto te gosto e te admiro, muito da minha personalidade é sua, tu sabes. A veia econômica principalmente. Até o Adam eu herdei, só que na versão alemã que deveria ser sua. Sempre respeito meus superiores, sou gentil, enfim também não sou tão perfeito assim ninguém é, mas isso sempre o senhor me ensinou, me orientou. Aprendi a controlar minhas finanças e a ser independente aí com vocês. Que este papel leve algumas gotas de lágrimas que estão sobre a minha face agora. Mas muitas são de alegria de poder escrever, de ter uma família tão interessante. Gostaria de dizer muitas outras coisas mas deixo que o sentimento explique. Gosto tanto das letras mas me dedico aos números e a contabilidade. A vida apresenta dicotomias que nem a gente explica. Caminhos que nem sempre são os ideais. Mas temos que agradecer a tudo e a todos aprendi isso e acima de tudo saber respeitar as pessoas, porque ninguém vive sozinho, e nós, mesmo a distancia, sempre estamos próximos de alguma forma. Quando quiser e puder vir a mato grosso, não é um bicho de sete cabeças e nenhum fim de mundo ta? A gente liga o ar e se refresca sem problema (risos). Será um imenso prazer, pode ficar na minha casa. E isso serve pra meu pai, a Lúcia, enfim, todas as pessoas que eu gosto.
Mas agora basta, alegria, alegria! As férias estão chegando. Fique com Deus hoje e sempre.
Leonardo Adam Poth
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ps. um pouquinho da vida real nua e crua, escancarando o livro aberto do cotidiano para os recantistas, fala um pouco do sul, da família, dos planos da época... carta real enviada a ele na data supracitada... minha referência de vida... ele veio a falecer 252 dias após essa data... e a vida seguiu, duramente, mas seguiu...
ps. um pouquinho da vida real nua e crua, escancarando o livro aberto do cotidiano para os recantistas, fala um pouco do sul, da família, dos planos da época... carta real enviada a ele na data supracitada... minha referência de vida... ele veio a falecer 252 dias após essa data... e a vida seguiu, duramente, mas seguiu...