A Carta Que Nunca Mandei Para Ti

Faz mais de trinta anos! Nos conhecemos através da secção de

correspondência de uma revista feminina. Uma entre tantas que

existiam naquela época. Conheci muitas outras mulheres por esse

meio. Mas ao decorrer do tempo só você ficou. Nem sei se hoje

vivo na memória das outras. Mas sei que já faço parte da sua

vida, assim como tu fazes parte da minha.

Sei que nunca nos conheceremos pessoalmente. Mas nosso re-

lacionamento tem a grandeza da distância que nos separa e a so-

lidez que só o tempo é capaz de forjar.

Mas se nunca teremos um contato físico, o seu mundo interior

de há muito foi por mim desvendado, pois em suas missivas te re-

velastes inteira para mim. Assim como tu me conheces melhor do

que ninguém, pois de há muito despir minha alma para você.

Tu disse-me que tens todas as cartas que escrevi para ti. E eu

fico pensando: são tantas!! o que serão delas quando tu e eu não

mais existirem!?

A nossa correspondência ameniza a nossa solidão. Porém sei que

acalentastes mais do que isso. Sei que tu queres que um dia eu vá

ao seu encontro.

E eu não te digo, mas prefiro que a nossa relação permaneça assim.

Para um contato mais "vivo" temos o telefone. De resto, continuemos

a usar o verbo, o qual se não une nossas carnes ao menos dá vida as

nossas almas.