NÃO EXISTO MAIS EM TI?

Passas a vida a afirmar que eu, há muito, já não existo em ti. Repetes tanto e tanto e tanto... repetes isto à exaustão. De tal forma o repetes que acabas por me levar à certeza, contrária, de que permaneço existindo em ti, e muito.

Não sei bem por que, mas, tua insistência em dizer que não existo em ti me evoca Alberto Caeiro, o poeta da natureza em Fernando Pessoa, a dizer: “Há metafísica bastante em não pensar em nada.”, verso que me leva à seguinte questão: Algum partidário da Metafísica conseguiria defendê-la melhor, a Metafísica, do que ele, o grande Alberto Caeiro, o faz – à própria revelia, claro - com este seu verso “Há metafísica bastante em não pensar em nada?”

E confesso: Deixo que aflore em mim esta pseudo pensadora, apenas para escamotear, para disfarçar a mim mesma a sobre todas suprema angústia de não ter mais qualquer caminho efetivo para saber se, realmente e há muito, eu já não mais exista em ti.

Escrita e publicação no início da tarde de 15 de março de 2012, ainda em “comemoração” a determinado aniversário de algo fundante e para sempre essencial (em mim), nascido há exatos 22 anos.