O Carrão do Filhão
Ah meu filho, consegui trazer seu carro aqui prá casa como prometi pra mandar fazer uns ajustes. Como é o seu primeiro me esforcei, vim num sacrifício pra chegar até aqui em casa na chácara. Deixei minha caminhonete no meio da estrada e quando cheguei lá com o seu, tive um pequeno problema; como levar os dois três quilômetros à frente até chegar a casa? Solução meio idiota, mas ainda solução: Entrei na caminhonete e andei trezentos metros. Descia e pegava o carro e andava mais uns trezentos e cinqüenta. Retornava à caminhonete e andava mais uns trezentos e assim até chegar com os dois. O sol não cooperou e queimou minhas faces velhas, as pernas também já estavam com raiva da solução e começaram a reclamar dando sinais de dores. Coisas que a mente não entende pensando ter vinte, mas o corpinho é de sessenta e quatro. Pior foi quando tive que chegar à entrada do condomínio e agüentar os risinhos dos porteiros” tipo, esse veio ta louco”. Enfim cheguei estacionando primeiro a velha saveiro, ela entrou primeiro por uma questão de hierarquia, como diria minha saudosa mãe “Primeiro eu, depois os meus”. Bem, tudo resolvido e depois de tomar um banho e uma sopa, (caramba a patroa fez sopa hoje aos trinta e dois graus) no fim de tarde tudo estava sereno. Como recompensa a noite foi linda e fez uma lua cheia danada de vistosa. Fiquei ali a filosofar depois de umas latinhas de cerveja: Talvez amanhã você me recrimine dizendo “Nossa que absurdo, não precisava nada disso”. Eu digo; precisava sim! O que eu estava cuidando e salvando não era um monte ferros em cima de quatro borrachas, isso o tempo manda pro lixo. Salvei o cuidado, salvei o cuidado do carinho. Você duvida? Ah! Se você visse essa lua linda que vejo agora tenho certeza que veria não o carrão, mas um berço onde todos os filhos estão dormindo embalados nos braços paternos. PS: A Célia está dormindo frente à televisão depois de ter empurrado uns bons carrinhos de terra hoje aqui fazendo uns acertos no terreno, apesar de não ser santa dorme fazendo uma cara que até parece ser.Dá prá perceber que luas e latinhas de cerveja fazem boa trama poetica, não? Boas rodas quero dizer: Boa noite e bons sonhos!