A uma velha amiga
Oi, há quanto tempo não nos vemos?
As coisas mudaram muito desde a ultima vez, veja só meu tamanho, eu cresci bem e você não faz idéia das transformações que ocorreram na minha cabeça. Se parar pra pensar bem, até o meio em que nos comunicamos agora é diferente.
Lembra quando eu subia as escadas e ia para a parte descoberta do telhado falar com você? Chegava meio tímido, envergonhado de começar a falar, mas, quando começava, não conseguia parar.
Falei de muita coisa, me expus de ponta a ponta nos meus problemas de garoto lunático de 15 anos de idade, falei, pedi, e você nunca devolveu uma só palavra, mas, naqueles dias eu buscava somente quem me ouvisse e isso você cumpriu muito bem o papel.
Agora olhe para mim, deixei de falar e passei a escrever. Receio que não saiba ler e eu tenha que, de um jeito ou de outro, falar. Perdi a língua rápida que parecia te encantar e ganhei pensamentos reservados, me fechei.
Durante todos esses anos que estivemos separados, fiz questão de lembrar do presente que me deu, algo que embora eu não tenha mais, fará parte da minha vida, da minha historia, sempre te fui grato por isso.
Estou voltando para nossa conversa, o cenário mudou um pouco e sinto que não estamos mais completamente sozinhos como era antigamente, as casas cresceram e as janelas agora são vizinhas do nosso ponto de encontro, falar contigo virou algo difícil, ficou exposto.
Mas espero que entenda meu olhar cada vez que a fito aqui embaixo, que me de sua proteção quando precisar e que me de conselhos quando eu os pedir. Desculpe não poder falar mais, como fazia antigamente.
Meus problemas mudaram, cresceram comigo, as questões agora são outras. Eu estou sozinho e sem apoio, se meus joelhos dobrarem, cairei no chão e terei de levantar por mim mesmo, se quiser água, terei de esperar a chuva pois não há ninguém para me emprestar um cantil. Quando tudo vem contra e me mantenho de pé apenas pela força da teimosia, vendo ruir coisas ao meu redor, observo pontos de luz distantes que parecem um tanto surreais, seriam uma espécie de miragem noturna?
Agora sei que a noite não é tão escura, sei que lá de cima você me ajuda e me mostra os caminhos, sei que a escolha de cada um deles é minha mas você ira ilumina-los, seja qual esquina eu virar.
Olho para o céu e você esta lá, linda e majestosa. Velha amiga, o que é que eu faço agora?