Querido Aniel,
  
               Hoje quero falar a você do prazer que tive de encontrar na Livraria Saraiva, em edição da BestBolso, o pequeno grande livro de Ruan Rulfo: “Pedro Páramo”.  Reli-o com o mesmo prazer com que o fiz a primeira vez, há muitos anos. Creio que na época do “boom” da literatura latino americana, na segunda metade do século XX, quando surgiram: Carlos Fuentes, Octavio Paz, Júlio Cortazar, Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marques, este, segundo leio em notas sobre o livro, diz que “Pedro Páramo” foi a fonte de” Cem anos de solidão”. A tradução é de Eric Nascimento.
         
               Juan Rulfo nasceu em Sayula, no estado de Jalisco, no México, em 1917. Escreveu apenas dois livros de literatura: “El llano em llamas” (1953), contos e “Pedro Páramo” (1955), romance. Rulfo era descendente de uma família proprietária de terras, arruinada durante a Revolução Mexicana de 1910. Seus pais morreram muito cedo. Foi internado em orfanato em Guadalajara. Começou a estudar direito, mas não conseguiu terminar o curso. Rulfo fez roteiros de cinema, trabalhos para a televisão e dedicou-se a fotografia.

               O enredo de “Pedro Páramo” é muito simples: uma mãe pede ao filho, na hora de sua morte, que vá em busca de seu pai, Pedro Páramo, que ele desconhece. O romance é a história dessa busca.  O original é que o narrador, Juan Preciado e todos os personagens que ele encontra em Comala, cidade onde viveu seu pai, estão mortos. Mortos que contam ao morto Juan Preciado a história do cruel Pedro.

               No Google, encontrei uma entrevista de Ruflo a Bella Josef, durante uma das estada dele, no Brasil, em que entre outras ; v m;icoisas ele dizia que era muito exigente com ele mesmo, referindo-se  a estilo, com uma autocrítica muito forte. (Pedro Páramo ‘tem 137 páginas). “Não queria que meus personagens falassem como num livro escrito. ...mas escrever como se fala”.  E foi assim que eu o li. Mérito do tradutor.

               Quando lhe dizem: “A presença de um morto, em sua literatura, é como uma espécie de obsessão”.  Ele responde: ”Os vivos estão rodeados dos mortos. Nos povoados do México, existe a ideia de que as almas em pena visitam os vivos. Nos caminhos até hoje, onde há um morto, as pessoas lançam uma pedra sobre sua sepultura. Essa pedra equivale a um Padre Nosso para a alma do defunto. No romance todos estão mortos. A história é contada pelos habitantes mortos. Assim, o povoado torna a viver uma vez mais. Esse foi o meu propósito, dar vida a um povoado morto”. E conseguiu.

              Olha só que bonito:“o sono é um colchão muito bom para o cansaço” ou “ Ao despertar, estava tudo em silêncio; apenas o cair das mariposas noturnas e o rumor do silêncio”. Outro, “Em cada suspiro é como se a gente se desfizesse de um sorvo de vida”. Parece Clarisse, não acha? Juan Rulfo morreu em 1962, aos 68 anos de idade e foi enterrado com todas as cerimônias devidas a um grande morto. Meio século depois estou eu aqui a milhares de quilômetros de distância de seu túmulo me emocionando com sua obra. Os reis morrem, mas os grandes artistas renascem.  Um grande abraço.
                                                         Alberto

 
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 07/03/2012
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