Sobre esse jogo de Amor

Eu não fiz nada. Na verdade, não havia mais nada a se fazer. Então, encostei minha cabeça na parede e comecei a chorar. Antes que a primeira lágrima tocasse o chão, eu já estava largado sobre ele, tal qual mendigo sobre o lixo.

Eu não fiz nada. Acho que não queria me mover. Não queria perder esse momento. Não queria parar de respirar e correr o risco de deixar de sentir. Não queria sair desse êxtase (que nunca havia sentido antes).

Quando as lágrimas secaram e o coração se acalmou, percebi que nada além de você importava naquele momento. Nada! E, talvez, o único momento que tivemos juntos, e que por pouco não foi nosso, fosse a coisa mais mágica que tive com alguém. E o momento que quase tivemos, seja o mais puro de todos.

Quem sabe aquela despedida com gosto de "até logo' tenha sido o momento onde fui rendido. Quem sabe se aquela despedida não tivesse acontecido. Quem sabe se a gente não tivesse se conhecido. Quem sabe se. Quem sabe?!

Ainda deitado no chão percebi o quanto havia perdido por medo de não querer ter para perder. Ainda deitado no chão vi seu rosto de cabeça erguida e coração transbordando de qualquer outro amor que não era o meu. Chorei mais um pouco e me tornei assim, isento de culpa, livre da solidão e dependente do amor. De repente, quando abri os olhos, vi cores e sons. Quando menos esperava e muito menos queria me tornei o mais novo viciado nessa droga de amor. E como todo principiante não sei o que fazer (e mesmo que soubesse, não saberia como fazer).

Aos poucos vou me reerguendo e como criança vou me apoiando nas paredes, ficando de pé. Começando do zero e aprendendo a ver a vida com outros olhos.

Dormir acompanhado, mesmo estando sozinho, dá uma sensação de paz.

Os sonhos são outros, o mundo, as pessoas, os casais de namorados mudam. A maneira como se escreve e se pensa. Tudo fica tão diferente. Era mais fácil escrever sobre o que eu não conhecia. Me sinto estranho falando de amor agora. Me sinto um principiante. Não que seja profissional, mas me faltam palavras. Ver o quebra-cabeça já montado e se imaginar brincando com ele não ajuda em nada quando as peças estão todas embaralhadas e você precisa montá-lo. Não sei nem começar (e justo eu que montava todo ele em segundos, justo eu que nunca pensei em abrir a caixa). Quando abrimos a caixa é que percebemos que nem todas as peças pertencem àquele quebra-cabeça, e quando as peças não são colocadas com certeza mudam de cor e algumas vezes até de formato.

Percebi que o amor não é um jogo simples e que não faz nenhum sentido jogar sozinho. Percebi que este quebra-cabeças tem como aposta partes do coração, e para jogar não basta ser 'maior de idade'; tem que ter estômago, tem que ser forte, tem que ser imparcial. Percebi que as peças mudam de cor de formato ainda na sua mão, em alguns momentos. Percebi que para não perder tanto, precisamos jogar outros jogos e nos fortalecer, precisamos jogar com cartas em branco e falsificá-las de acordo com a necessidade. Temos que causar um Tsunami com um beijo e torcer para que a queiram de novo.

Descobri que neste jogo não tem espaço para criança ou principiantes. E os que, ainda assim, entrarem no jogo terão de ficar (mesmo que em desvantagem) até que aja o vencedor. Para meu desespero, estou na mesa com profissionais, entrei no jogo em desvantagem. Não há mais como sair, o jogo começou. O jeito, então, é fingir que sei jogar para que eu não perca logo de primeira. E se vier a perder sair, pelo menos, com o que entrei.