Olhos nos olhos
Eu vejo nos teus olhos…um fim de tarde, duas jabuticabas prontas para serem devoradas, os meus olhos, pálpebras, sorrisos, sobrancelhas, espelho. Vejo tudo o que vês. Vejo a ti refletida, mil e uma lágrimas que escorrem pelo teu rosto e te secam a alma (embora tu tentes relutar). Eu o vejo logo viajar – intocável, imóvel, porém, ininterrupto – por entre flores, projeções, poesia, volúpia, epifanias, tua alma…e por entre meus cabelos, mãos, pescoço, pernas, músculos e pele. A sua alma se regenera toda e cada vez que estes olhos meus a encontram – e assim vai ficando cada vez mais atraente (não diria fácil) recompor tua essência com cada fragrância que deixas espalhada pelos cômodos, na cozinha, no sofá, na mesa, nas cadeiras e poltronas…nos corações. Mas logo penso ser aconselhável que eu me afaste, pois não quero roubar mais nenhum ectoplasma teimoso da tua alma quando o despertador tocar – não que eu não goste da tua bela alma com perfume de pitanga (que passa de trezentos anos e continua conservada), não me leve à mal! Mas é que eu não suportaria sugar tua energia quando gostaria de poder te dar o meu mundo (e tudo aquilo que esteja fora de alcançe também). Por não poder, me vou…mas queres mesmo saber o que vejo nos teus olhos? Vejo, principalmente, a vontade que tens de despir os meus, a tua infinita busca por algo que não chegará (mas queres discordar), e todos os sacrifícios que fazes para deixar um pensamento livre do controle do coração. De forma indizível (mas ouso dizer), você é capaz de enxergar até o invisível. E fins de tarde e jabuticabas e meus olhos nos teus…