CARTA PARA MINHA FILHA IZABELA

Curitiba, 26 de agosto de 2010.

Minha linda e amada filha Belinha

Escrevo na saudade incontida da distância infinita que amargo aqui.

Hoje é um primoroso dia. É o dia de seu aniversário.

A data 26 de agosto faz com que meus pensamentos me transportem célere até a cidade de Americana naquela tarde morna de 1983 às 14h45min horas no Hospital São Lucas. Lembro-me bem; Lá estava eu, todo nervoso, aflito, em uma sala, sentado em uma cadeira, não muito confortavelmente e sua mãe, ansiosa, arfante no esforço do parto dolorido se apoiava em minhas pernas, sentada no chão. Lembro-me como se fosse hoje, minha filha! Cena linda marcando o início de uma vida. O médico impassível, de pé a nossa frente nos orientava para o parto de cócoras. Você de repente apareceu; desprendeu-se do útero e apoiada pelas mãos ágeis do médico foi colocada por alguns instantes no regaço de sua mãe. Ela, cansada, mas carinhosamente passou a mão pelo seu corpo ainda encoberto pelo líquido da bolsa uterina dizendo com voz quase apagada:

- Não é linda a nossa filha?

Cena cinematográfica e inesquecível.

Não me contive e algumas lágrimas vadias salgaram meu rosto.

Lembro-me perfeitamente cortando o cordão umbilical e logo depois queimando minhas mãos no seu primeiro banho naquela água de temperatura de aproximadamente 36º. Tenho tudo isto registrado na memória como se fosse uma foto de resolução fantástica.

Lembro-me de você pequena, de mãos postas rezando comigo as orações para dormir e pedindo depois que olhasse debaixo da cama e dentro do guarda roupa para espantar os terríveis monstros noturnos. Logo em seguida eu via seus lábios sorrindo felizes e seus olhos se rendendo ao sono. Ainda sentado na cama, ajeitava a sua coberta e mansamente beijava seu rosto dizendo: - Eu amo você minha filha, durma com Deus.

E o tempo foi passando, no constante e interminável tic tac das horas e você minha filha cresceu, em tamanho, inteligência e bondade, mas sempre linda e graciosa.

Minha filha eu diria hoje a você que a beleza transfigura a inércia de um desejo incontido na psicopatia crônica em uma explosão de multicoloridos pensamentos quando se depara com algo monumental, fantástico. Você é esta beleza presente, é este algo monumental e fantástico, você é simplesmente a minha filha linda. A sua volta a indolência não existe e a inércia é utópica. Você irradia encanto em profusão pela sua meiguice, pela sua coerência dos atos praticados. Você é criança nas suas crendices, menina nos seus desejos difusos e a mulher linda na sua sensualidade perene. Você não é nenhuma visionária, é pé no chão, embora seja uma sonhadora que luta bravamente pelos seus ideais como Dom Quixote. Talvez eu veja em você mais um Sancho Pança, mais realista. Você é a fiel escudeira dos seus anseios.

Seus sonhos são uma conquista paulatina por degraus numa infinita escada. Você se realiza por cada conquista e contamina, prendendo numa teia os que estão a sua volta.

Você é a minha princesa, meu orgulho. Você é a extensão revitalizada de minhas realizações. Sinto em você aquilo que eu queria ser.

Minha benção e meus parabéns pelo seu aniversário.

Enfin, toujours prier pour remercier Dieu. Lorsque vous dormez, n'oubliez pas de regarder sous le lit et regarder à l'intérieur de l'armoire.

Je t'aime.

Do pai coruja

Mario

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 24/02/2012
Código do texto: T3516843
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