EU SOBREVIVEREI
Pensacola - fevereiro de 2.012
Querida
Às vezes pensamos que não vamos suportar certas situações, certos acontecimentos, sentimo-nos presos ao passado, ao presente e, por este motivo, não vislumbramos o que está por vir: o futuro.
Como este futuro é incerto e por não querermos nos afastar do momento atual, criamos uma resistência a qualquer mudança, qualquer alteração, mínima que seja, em uma rotina já bastante sedimentada.
Se isto é verídico - não sei se o que escrevo é correto ou não - para a grande maioria das pessoas, imagine tal mudança na vida de alguém que sofre de algum distúrbio como o T.O.C. - Transtorno Obsessivo Compulsivo - em que assume uma dimensão aumentada e elevada a necessidade de observação e cumprimento de uma série quase infinita de rituais, rotinas, repetição de pensamentos e atos.
Mas não por causa disto, ou por outro motivo qualquer, não implica em que não possuímos condições de superar perdas, traumas, mudanças, alterações e tudo o mais que causam-nos sofrer.
Pode ser bem mais difícil, isto sim, mais penoso, mais sofrido, mais demorado, mas não que não exista a possibilidade de superarmos tudo isso e seguirmos em frente, continuarmos a viver, a ser, até pelo fato real e simples de que não há outro jeito, outra maneira, outra alternativa que não seja a de se enfrentar tudo o que naquele momento nos produz dor e sofrimento.
Já passei por muita coisa nesta vida, muitas perdas , muitos traumas, de todas as ordens, de caráter estritamente pessoal: avós, pais, irmã, amores ; de caráter profissional; de todas as formas, magnitudes, intensidades, e vejo, constato, até, que sobrevivi. Sofri, também, não nego que sofri bastante , contudo sobrevivi.
Não posso apenas pensar em dores, tenho que pensar também em tudo o que a mim foi dado, não em sentido material, mas em sentido sentimental, posso considerar-me abençoado, até arrisco dizer dotado de muitas coisas boas, maravilhosas, repito, todas de cunho sentimental, muita coisa boa foi acrescentada ao longo de minha vida, INCLUSIVE VOCÊ, mas chega o momento em que não podemos ser puramente egoísta e querer prender junto a nós a pessoa amada. Não podemos a partir de nossa satisfação estritamente pessoal causar dano a pessoa amada. Seria até mesmo um imenso contra-senso: Para meu bem-estar, minha satisfação íntima e pessoal venho a causar um mal-estar justamente a pessoa que eu amo...
Se eu AMO VOCÊ, verdadeiramente, tudo o que eu quero para você, amada, é sua felicidade, seu crescimento pessoal, sua liberdade, ser você mesma, ter sua própria vida, seus próprios planos, seus anseios, suas realizações, seus sonhos, seus projetos, tudo de melhor para você, sim, é o que logicamente quem AMA deve querer - mesmo sofrendo, sim - mas deve colocar a realização da pessoa amada em primeiríssimo plano.
Tenha a sua vida, sua própria vida. Realize-se, construa, faça acontecer, implemente seus sonhos. Viva a sua vida e não a vida de outros. Liberte-se. Voe alto. Seja você mesma.
Não se preocupe. Siga em frente. Cabeça erguida.
Quanto a mim, tenha a certeza de que sobreviverei. EU SOBREVIVEREI.
Se estou aqui escrevendo isto nesta altura da vida é pelo motivo de que sobrevivi a tantas e tantas outras coisas, embora haja momentos em que a gente pense que não vai conseguir. Mas consegue-se, sim.
A gente sobrevive. Eu sobreviverei, você sobreviverá.
Nada tema. Não há problema sem solução. Há solução para tudo nesta vida.
Seu - sobrevivente.