De Ziggy Stardust para Tomas Edison.

Planeta Marte, 18 de Julho de 2012

Caro Tomas Edison!

Nós não nos conhecemos. Sou de um futuro não muito distante e de outro planeta.

Sou do planeta que povoa a imaginação dos terráqueos, desde a aurora da civilização, chamado: Marte.

Acompanho tuas invenções com muito interesse; embora, no momento, você deve estar se perguntando:

Como ele conseguiu enviar-me uma carta do futuro? E ainda mais de outro planeta?

Pois bem, aqui em Marte estamos avançados nas tecnologias das dobras espaciais. Já ouviu falar de física quântica? Não? Então, te contarei um segredo:

Daqui alguns anos seus, Albert Einstein irá formular a teoria da relatividade que explicará a mecânica do universo. Um bocadinho depois, Miguel Alcubierre, irá começar a desvendar o mistério das dobras espaciais, ou seja, atalhos por onde aparelhos voadores poderão encurtar a distância entre os planetas.

Gostaria muito de lhe revelar as grandes descobertas que estão porvires e lhe explicá-las tim-tim por tim-tim. Na verdade queria escrever sobre um invento teu, chamado: Fonógrafo. E a importância dele para o povo marciano.

Ora, apesar de termos todo este conhecimento tecnológico que no faz viajar para qualquer mundo ou tempo. Não tínhamos nada parecido com esta... Vitrola...

Assim que soube desse teu invento. Invadi tua fábrica e roubei-lhe um aparelho e o levei para Marte, onde rapidamente o transformamos num microsystem.

Eu tive a honra de fundar a primeira banda marciana: “Ziggy Stardust and the Spiders of Mars”.

Eu sei, o nome da banda soa narcisista. Foi um sucesso estrondoso.

Tocávamos um glam rock na maioria das canções; mas, às vezes, tocávamos um blues, porque tal como é na Terra: É muito comum carregarmos as mais diversas tristezas, passionais ou concretas.

Em 1973, por brincadeira, eu fiz uma turnê na Terra. Inventei uma personagem chamada “David Bowie”, mas por desavença com o guitarrista Giller, nós desfizemos a banda em 1982.

Nossas letras falavam da dureza e da rotina da vida. Coisa que você deve entender bem, neste seu tempo, se trabalha 14 ou 15 horas nas fábricas ou nos campos, desde a mais tenra idade.

Pelo menos, nós do futuro, mesmo as pessoas mais simples (tanto terráqueos quanto marcianos), temos tempo de questionarmos os ensejos da vida e perguntas perturbadoras que nos assolam:

— Quem é Deus?

Ótima questão, não é mesmo? Eu perguntei para um de nossos filósofos, Zinon Plêiades e ele disse:

— Deus é o acaso, pois o acaso é quem molda o universo e não há quem possa lhe impedir de algo.

— Pode se modificar o acaso?

Ele responde:

— Não conheço quem o controle, talvez... Esse negócio que os crentes fazem... Orações... Talvez o acaso possa consentir estes desejos, isto claro, se ele for uma entidade dotada de consciência.

Eu sei que você é um homem mais prático, não é dado às questões filosóficas e talvez nem acredite em Deus, ainda mais, neste seu tempo, onde o homem tem que se preocupar pelo prato de comida diário.

Apesar da comodidade das tuas invenções que ajudaram o homem a trabalhar menos. Elas não tiraram este espírito de escravidão das circunstâncias.

O vazio que assola as pessoas do século XXI é tão ou mais forte do que os das pessoas do século XIX com o agravante de sermos pessoas fúteis. (Sempre lembrando que falo tanto de terráqueos quanto de marcianos).

Mas devo lhe dizer que a culpa desta futilidade é tua.

Se não fossem por teus maravilhosos inventos, provavelmente, os terráqueos permaneciam preocupados com as coisas mais práticas e os marcianos preocupados com mais filosofia.

Teus inventos deram a dose certa para nossas sociedades, entretanto, elas ainda não sabem o que fazer com a liberdade dada por teus inventos. As pessoas preferem permanecerem escravas do acaso ou da alienação.

De toda a forma, gostaria de agradecê-lo pelo fabuloso invento do fonógrafo que tanto alegrou os terráqueos e marcianos.

Quanto ao aparelho roubado, não se zangue comigo, acredite em mim, foi por uma boa causa.

Felicitações!

Ziggy Stardust

http://amadeupaes.blogspot.com