Pietá
Saudações amigos,infelizmente tive que me ausentar do blog mais uma vez para cuidar de minha Mãe,desde o início de Outubro passado seu estado de saúde vinha se agravando embora uma pequena e esperançosa melhora até Dezembro nos fez acreditar que ela mais uma vez se recuperaria,neste mesmo Dezembro reiniciou seu tratamento contra o Câncer de Mama com o qual já lutava a quase um ano, a quimioterapia a que se submetia já a cerca de sete meses parecia ter feito seu trabalho,seus cabelos já ralos acabaram de cair no hospital onde foi internada para combater uma pequena infecção decorrente da falta de defesa no organismo,oito dias e voltamos para casa animadas pela possibilidade de uma cirurgia para retirada definitiva do tumor; porém nada é mais ilusório que a esperança e quatro dias depois estávamos de volta ao hospital onde em mais uma crise ela foi novamente internada e preparada para transferência ao Regional de Caruaru,dois dias depois seguimos viagem e lá ficamos vinte e oito dias,gostaria de aqui por para fora toda minha angústia,revolta e sofrimento de assistir uma pessoa definhar e não poder fazer nada,ou pouco menos que nada...
Durante os primeiros quinze dias ela reagiu,voltando a se alimentar e lutando sem descanso pelo que mais queria que era voltar para casa mas a possibilidade de uma metástase cerebral a abateu sem compaixão,primeiro vieram as convulsões, a perda de consciência e apetite,anemia...Cada vez que o médico se aproximava do seu leito meu coração se rasgava descompassado porque eu tinha medo e ciência de que poderia ser a última... Mas ela resistiu,exatos dez dias sem convulsões dos quais provavelmente seis sem nenhuma alimentação pois não conseguia engolir nada,iniciaram a alimentação enteral,seu corpo rejeitou e assim a anemia que já era grave tornou-se gravíssima e terminou por debilitar ainda mais... Febre...Trinta e nove,quarenta,quarenta e um graus,o perigo de novas convulsões... Até que duas da tarde a febre baixou instantaneamente e ela me chamou,cristalina e firme ouvi meu nome mas embora estivesse ao seu lado não mais me reconheceu, em silêncio absoluto se transcorreram as próximas horas até que as sete da noite ouvi novamente meu nome ... De olhos já cerrados... Exatas dez e vinte da noite de Dezoito de Janeiro minha Mãe faleceu.
Não preciso lhes dizer a enorme consternação,tristeza e imensa desolação que se abateram sobre mim naquele momento mas ao mesmo tempo um fino raio de luz e uma réstia de compreensão de que o seu sofrimento tinha chegado ao fim naquele momento me fizeram segurar o quanto pude as lágrimas e os gritos que gostaria de ter dado... Avisei a meus familiares e um amigo que é mais que isso é um verdadeiro irmão...
Tomadas as devidas providencias me despedi da sua figura inerte e marmórea mas tão bela que nem a morte lhe roubou o encanto e causava temor e incerteza de seu fim já ter chegado,mas de fato viera, só constatei finalmente quando lhe embrulharam naquele plástico cinza e levaram ao necrotério...
Uma e meia da manhã meu tio chegou com o carro funerário e fomos embora,os quatro...
Chegamos em Pesqueira por volta das Três da madrugada, em cinco minutos ornamentaram seu corpo e a urna e partimos de volta para casa... Três e quarenta chegamos,meu pai
dormia,meu irmão chorava sozinho em seu quarto, minha tia,prima e duas vizinhas me esperavam na porta me abraçaram... Eu não sentia nada a não ser uma imensa onda de frustração e decepção de ter prometido a ela e a mim mesma que a traria de volta e bem ,mas não consegui,não foi possível ... Deitei e apaguei acordei bem cedo com o burburinho e o cheiro de velas que já tomava a casa...Apaguei de novo só acordei quando meu pai puxou meu cobertor ... O choro foi inevitável e trouxe um pouco de alivio para nós dois... Horas depois meu irmão acordou,nova comoção e eu ali com ele, de pé porém destruída...
Meu amigo chegou ainda era mais ou menos meio dia e passamos o resto deste maldito dia perto um do outro,conversamos amenidades mas o silêncio e as lágrimas sempre me cortavam a fala e ele compreendeu tudo. O velório foi como todos são,terrível,cheio daquelas orações inúteis e ditas de muito pouca boa vontade,havia mulheres chorando de se rasgar eu observava calada e incrédula pois essas mesmas que choravam nunca haviam ido a minha casa visita-la nenhuma vez como se Câncer fosse uma doença contagiosa,nenhuma delas ficou em sua companhia em sequer cinco minutos num hospital ou clínica que ela já tenha ido,nenhuma trocou sequer uma frauda sua ou lhe deu uma palavra de coragem ou mesmo conforto... ...Nenhuma delas...
Menos de três semanas de sua partida tenho que ouvir cochichos e comentários a meu respeito,que não chorei no velório,que não a tratava bem ,que sou atéia e deus me castigou levando ela pra mostrar que é deus ...Hoje tenho que lidar com o silêncio na casa,com a falta de alguém que jamais voltarei a ver a não ser nas fotografias amareladas ou em meus sonhos mas desde aquela noite eu não durmo e tão cedo tornarei a sonhar... Mas ainda estou viva e apesar de tudo sei que preciso continuar pois assim honrarei sua memória,com luta,com perseverança,cheia de saudade mas certa de que um dia voltaremos a nos ver quando minha jornada chegar ao fim,fim este que também é ilusório porque só o corpo morre,a alma é imortal.
`Aquelas que dizem que não chorei Fodam-se, minha dor é só minha e de mais ninguém, se eu quiser compartilhar procurarei alguém de minha confiança e apreço e não vocês que não tem o mínimo respe ito seja por ela,por mim ou pela minha família,aos que se importam com minhas crenças procurem-me para um debate pois estou mais disposta que nunca para por minhas idéias para fora, àqueles que se perguntam de onde tirei a frase na hora de seu sepultamento procurem na bíblia.
Quero aqui também agradecer aos médicos, enfermeiras enfim a todos que me ajudaram a cuidar dela como ela merecia,nada lhe faltou e nesta nova jornada nada faltará.
Em breve retomarei as atividades do blog e de onde eu mais escrevia que não me recordo agora, até a próxima em melhores condições psíquicas e emocionais espero.
Sinceramente, Ana Cláudia ou Lótus,como queiram.