Caríssimo Aniel,
Tudo bem? Olha, por aqui a coisa esteve preocupante nesse inicio de ano. Dia três de janeiro a cidade esteve praticamente acéfala. Os policiais numa greve violenta, os marginais agindo com a maior desenvoltura e nem cara ou voz de Prefeita ou Governador, em qualquer das mídias, para dar uma satisfação a seus cidadãos. E nós que aguentássemos a arrogância dos grevistas, a violência dos malfeitores e angústia gerada pela boataria, sozinhos. A cidade sitiada pelo medo. Triste, não é? Mas, vamos aos livros.
Estou lendo “Das mãos do Oleiro”, de Alberto da Costa e Silva, e num artigo chamado ” Quem somos nós no século XX: as grandes interpretações do Brasil”, ele diz que Viana Moog em sua “Uma interpretação da literatura brasileira” (1943), propunha que ela fosse divida em sete núcleos: Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O que chamou de arquipélago cultural.
Não vou discutir a tese de Viana Moog, pois como você sabe sou só leitor, simplesmente, leitor. Mas, creio que a literatura brasileira deixou de ser literatura daqui ou dali, e sim literatura escrita em língua brasileira. Literatura brasileira. Por quê? Os temas e a escritura deixaram de ser focados apenas pelos nativos sobre assuntos nativos. A geografia física e humana das histórias ultrapassou as nossas fronteiras. Que digam os livros de escritores descendentes de judeus: Scliar, Márcio de Souza; de árabes: Milton Atoun; africanos: Elisa Lucinda... são tantos!
Essas lembranças me veem ao ler “Dois Rios” de Tatiana Salem Levy (olha o sobrenome) em que a história se passa ora em Copacabana, ora em Paris, ora na Córsega. Assim como em seu livro anterior “A Chave da Casa”, que tem vários cenários.
“Dois Rios” conta história de um casal de irmãos gêmeos: Joana e Antônio que vivem felizes e unidos até a morte do pai. Daí em diante passam a acusar-se da morte dele. E separam-se. Ela fica no Rio cuidando da mãe obsessiva: fecha porta, abre porta, lava as mãos com sabonetes diversos, escuta sem parar “Ne me quites pas”; ele especializa-se em fotografia e começa a viajar pelo mundo. Até que uma mulher cruza a vida de ambos, como amante de Joana e de Antônio. Ela parte para a Córsega com Marie Ange; ele volta da Córsega em busca de Marie Ange. E aí vem o melhor da história, que deve ser lido e não contado. O livro é dividido em duas partes, a primeira, a versão de Joana; e a segunda, a versão de Antônio.
Tatiana, a autora, desenha os personagens com muita verossimilhança. Independente de me parecer que o personagem principal – é o pai. Ou – o mar? Pois grande parte da história se passa em duas ilhas: Ilha Grande e Ilha de Córsega. O sal, o cheiro, o som. O horizonte, o barco, a espera, o tempo. Tempo e espaço estas constantes coordenadas de nossas vidas. Abraços.
Alberto.