*Eternidade

Ao largo o encrespado mar com seu bailar, meus olhos acompanhava, com seu azul escuro no silencio da manhã nublada.
Marquei a areia em dois sulcos com o vai e vem de uma corrida de aquecimento, e espalhados na areia virgem da manhã marcas de meus pés sem rumo, sem direção como  a preocupação, quando me aproximei das marolas, e pus-me a colocar as nadadeiras.
O mar cresceu diante de mim, nos joelhos, na cintura e de repente a onda levantou-me, senti o mar diferente o encrespado ao invés do liso sereno das manhãs causou-me um calafrio o submergir na água semi gelada e nervosa daquele desconhecido.
Mirei as pedras a sudeste, meu destino antes de contornar a baixa muralha e nadar para o sul...
Rasante uma gaivota gritou acima de mim, como a me dizer, não vá...! Hoje... Não vá...!
Esforcei-me na coordenação braços, pernas, respiração, mas o marolar das águas me batia no rosto, e penetravam em minhas narinas salgando a respiração, levando um amargo irritante a garganta.
Atrás do visor vi o negro do céu acentuar-se, a língua de água e espuma alongou-se na minha frente a 50 metros da rebentação, era uma corrente em direção ao alto mar, não pensei o óbvio, voltar e não enfrentar, mas apenas pensei em nadar e nadar inclinei o corpo para a direita, afastei-me da corrente, para ganhar velocidade e ultrapassá-la cortando-a para continuar para o sul.
Senti o corpo arrastado para fora apressei braçadas e batidas de perna, e assim venci a corrente, com o fôlego critico flutuei por momentos com o paredão de pedras que devia ser contornado voltei a nadar, enquanto ia vendo a minha direita passarem árvores, postes de iluminação, píer, raras pessoas em suas caminhadas matinais, e no baixar das ondas os mariscos ameaçadores decorando as milenares pedras beijadas pelo mar.
Num olhar rápido, desviando o ritmo lógico para mim da natação que é do respirar do lado direito, vi sair de trás das ultimas pedras a serem contornadas uma língua espumante de uma corrente marítima nervosa, e mais uma vez não fiz o óbvio quando se sente cansado, ou um pouco cansado, voltar.
Abri desta vez à esquerda, mas desta vez não tinha atrás de mim a salvadora rebentação se passasse mal, o esforço teria que ser grande e as braçadas vigorosas, para nadar em mar liso mais adiante, e então tendo a direita novamente a rebentação e o mar raso.
Depois de abrir para a esquerda, olhei para a direita, 2 rochas a 2 metros de altura, e mais uma pequena a 1 metro da linha do mar, esta a poucos metros da rebentação, mas dentro de um lagamar, eram as ultimas pedras para ultrapassar
Acelerei as braçadas, a corrente alargou-se diminuindo a velocidade, mas ocultando-se, pois eu não via a espuma, e somente a força me arrastando de lado lentamente.
Depois de dez minutos, notei a direita que simplesmente não saía do lugar, abri para a direita e mais dez minutos de braçadas e movimento de pernas incessantes, mais uma olhada para a direita para as minha referencias, arvores e postes, e nada, parei, flutuei, e pela terceira vez a claridade não veio a minha mente e eu não nadei de volta, respirei, analisei um pouco confuso a situação e achei que deveria passar a corrente e não continuar para o sul, mas sim enveredar para a rebentação e sair.
Respirei, e comecei a nadar contra a corrente na diagonal para atravessá-la, uma onda de 1 metro de altura, me empurrou para mais perto das pedras altas, continuei nadando e uma segunda onda me arrastou além das pedras grandes, mas perto da pedra pequena, ainda tentava nadar com as ondas me prendendo no lagamar como um liquidificador gigante, não me dando opção de flutuar, era como se meu cérebro estivesse num ponto neutro eu não conseguia pensar em nada, é uma frieza caótica, como se eu estivesse a espera do pior, as forças esvaíam-se, as ondas agigantavam-se diante do quase esmorecimento, e a cada  batida das ondas eu ia de encontro a areia do fundo voltando e recebendo a próxima onda sobre mim...
Numa dessa voltas, eu visualizei perto de mim a pedra de 1 metro acima da linha da água e com duas braçadas a abracei, e em meio aos mariscos vi a água avermelhar-se em volta de mim... Num ultimo esforço quase escorregando para água novamente, eu gritei, à um vulto que visualizei na areia...
Foi a minha ultima visão deste mundo, e estas palavras psicografadas são a revelação de meus últimos momentos...
O vulto que vi na areia era o enviado que viera buscar meu espírito... Naquele momento eu já estava de partida.
 
Malgaxe

 
 
 
 
 
  
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 01/02/2012
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