UMA CARTA PARA G.

Acordei hoje e senti vontade de te escrever uma carta.

Impressionante como cartas saíram de moda... é lamentável.

hoje nós trocamos emails, Tweets, atualizamos o status do facebook.

Hoje, estamos todos enfiados nesse barril de merda que chamamos de internet.

viciados em comunicação instantânea, perdendo a imaginação. Perdendo um pouco da angustia e a ansiedade que separavam uma mensagem da sua resposta.

Hoje, eu sonhei que morria. De novo... Pela terceira ou quarta vez eu sonho com uma queda de avião... Deve ser meu destino... Ou talvez só um desejo do meu subconsciente por um fim dramático.

Eu quis te escrever uma carta, como as de Bukowski, mas não tão informais. Queria um pouco do peso das cartas de Werther, ou do Puff de Álvares de Azevedo. Não quero nada, não é, minha querida?

Eu quis te escrever uma carta porque de todas as pessoas que conheço neste mundo, você é a que eu me sinto mais à vontade. Sua companhia é como uma Garrafa de cerveja... Prazer quase indescritível quando estou desfrutando dela... mas deixa um vazio quando acaba. Quis te escrever uma carta, ou um romance, com o teu nome... Pena que teu nome não cairia bem a uma heroína... talvez para uma anti-heroina caísse melhor.

Mas ainda não estou pronto para um romance... tal qual Chinaski em Factotum.

Então, por agora, você vai ter que se contentar com essa mal redigida carta.

Lembro-me que certa vez tentei descrever você para um amigo.

E ele me pediu para falar sobre como eu me sentia com você.

Não lembro exatamente de tudo o que disse, mas lembro-me que falei da sua capacidade de ouvir tudo o que eu tenho para falar sem me dirigir uma palavra em julgamento... de como você é capaz de me conhecer inteiramente e ainda me desejar.

Se você não sabe, uma mulher com essa capacidade, pode enlouquecer a cabeça de um homem!

De inicio, eu tentei resumir tudo a sexo. Mas como você sabe, eu nunca consigo me ater ao superficial. É Muito mais que isso.

Assim como eu sei que você é muito mais do que se sente confortável em me mostrar. De certa forma, aprendi muito mais sobre você quando ficamos alguns minutos calados, olhando um para o outro do que com todas as nossas conversas.

Tantas vezes você me foi um bote salva vidas, quando eu queria me afogar, e acho que nem ao menos sabes disso. Eu olho para um lado, olho para o outro. Esta cidade continua a mesma bosta, como a deixei no mês passado. Ilusão minha achar que seria diferente. Então resolvi aceitar...

Enquanto aí, você vai levando sua vida de forma simples, eu vou aqui, me embriagando, escrevendo, dia após dia, sobre os mesmos assuntos, com palavras diferentes.

Eu vou aqui, um dia após o outro, um passo de cada vez esperando o momento de recomeçar a viver sem lamentar a minha posição geográfica.

Enquanto isso, eu agradeço a existência deste grande barril de bosta que nos mantêm conectados e agradeço a sua existência na minha vida...

minha querida

minha amiga

minha amante

e sabe lá o diabo, mais o que...

Angustiadamente, do seu, e de várias outras

Rômulo

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 31/01/2012
Reeditado em 01/04/2012
Código do texto: T3471420
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