Carta de uma criança: Relatos de uma vida humilde

Oi, me chamo João. Tenho oito anos. Minha mãe é diarista e meu pai esta desempregado. Sinto muito orgulhos deles, apesar das dificuldades. Tenho dois irmãos. A Maria de três anos e o Pedrinho de cinco. Moramos em uma uma casinha de madeira que tem um quarto, uma cozinha e um banheiro. Só temos uma cama de solteiro na qual eu durmo com meus irmãos. Meus pais dormem no chão que nem piso tem.

Estou no segundo ano. Depois da escola vou vender bala nos faróis. O dinheiro que minha mãe ganha é pouco e às vezes não dá nem para comprar arroz e feijão. Um dia vi meu pai chorando, porque minha irmã queria uma boneca e não tinha dinheiro para comprar. Minha mãe também chora quando pedimos algo que outras crianças estão comendo e não tem dinheiro para nos dar.

Tem uma cena que até hoje não sai da minha cabeça. Eu tinha seis aninhos e estava na escolinha. Havia um menino rico que estava comendo uma bolacha dessas caras. O mesmo se enjoou e ia jogar fora. Eu pedi para dar para mim. O menino jogou no chão, pisou e disse come. Não comi. Apenas pensei comigo: por quê quem tem muito não dividi com que não tem nada.

O motivo de escrever essa carta é para contar ao senhores como é o ser humano. Um dia estava no farol, quando me aproximei do único carro que havia e ofereci balas. A pessoa desceu do carro e perguntou o que eu fazia no farol. Expliquei toda a minha história. Ela disse que tinha nojo de mim e de crianças como eu, que éramos apenas um nada, um lixo. Falou ainda que um dia seria viciado em drogas e ladrão. Sem perceber, a pessoa deixou cair uma carteira lotada de dinheiro no chão. Ajudaria a termos comida por um bom tempo, caso eu optasse ficar com ela. Mas assim que ele se virou para entrar no carro, o chamei e devolvi. Envergonhado entrou dentro do seu automóvel e não disse nada.

Não sei como será meu futuro. Mas farei de tudo para provar a essa pessoa que cometeu um grande erro. Quero estudar e trabalhar. Posso ser pobre, mas isso não significa que eu seja ladrão. Meus pais me ensinaram a ser honesto, a não usar drogas e a não ser preconceituoso. Sonho em um dia ser médico. Mas não quero curar apenas as doenças. Quero curar a maldade no coração das pessoas e ensiná-las que não se deve julgar os outros pela aparência.

Ass. Joãozinho
Ellen Celestrino
Enviado por Ellen Celestrino em 22/01/2012
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T3455427
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