PORQUE TE AMO, MULHER!


Porque amo MARIA QUITÉRIA.

Ler Quitéria não é para todos. Há no seu escrever um “Q” de homem, de mulher, que se mistura de tal forma que passa, à primeira vista, um estado de repulsa a tudo que está ali nos seus textos. E o que eu leio ali? O ser na sua mais natural condição de humano, brutal, visceral, latente. Somos assim sem tirar nem por. Ela é um Nelson Rodrigues de saias, só que com uma diferença básica, ela diz que as mulheres gostam de apanhar com tapas de amor, na carne e na alma. Entendam como queiram... Há muitas formas de pensar... isso é o bom de ler e de escrever, derivar.

Quando alguns  lêem Quitéria, imagino que devem vê-la como a devassa. Devassa! Puta! Mulher do Demo!!!! A primeira vontade dos puritanos é converter Quitéria. Converter em quê? Ela fala abertamente de sexo, do prazer que ele dá. As formas? As mais variadas possíveis, a cabeça dessa mulher viaja demais. Dizem que é “fake”. Quem não é fake nessa vida? Dos mais “santos” aos mais “profanos”... Todos deixam à Sombra o que escondem à Persona. Falo das duas “irmãs gêmeas” que tanto deu trabalho ao Jung definir, e expor um instrumento ao reconhecimento e conhecimento dos mecanismos da mente.

Quem é ela, essa mulher que escreve e arrasta gente e mais gente a amá-la ou rejeita-la? Não me interessa. É uma escritora que leio, reconheço nela os traços de sensibilidade, reconheço nos seus escritos uma verdade, reconheço nela uma crítica a nossa hipocrisia santa e nossa lascívia camuflada. Que posso dizer dela? Nada, cada um que o diga! Só sei que gosto dela sem motivo aparente no meu consciente. Sei que ela tem um lado profissional com as letras que invejo. Quisera que metade do mundo usasse sua pena para poder fazer dela a arma que tanto sonho. Aquela que não traz dano, a não ser no alvo certo, sem, no entanto, mata-lo; ao contrário, essa arma faz renascer um outro ser, em uma outra verdade. O mal da humanidade é achar que a verdade só tem uma vertente. Se matam por causa de uma verdade. Arma poderosa é a da palavra, e, Quitéria promete usa-la e cumpre. Brinco muito com Quitéria, é que ela me deixa muitas vezes desarmada. Gosto de como ela é e a si me apresentou , e pronto. Nada a criticar. Sei que ela fez a mais dura das escolhas: ficar na encolha e na margem onde nem uma mulher, conscientemente, quer estar. É “Madalena”, mas quem pode atirar a primeira pedra?


QueQui, (é assim que eu a chamo) você é completamente adorável. Minha amiga de letras ocultas passadas em branco, branquinho e vermelho sangue! Nós mulheres já nascemos em meio ao sangue de outra mulher. E em comemoração ao ato sagrado de dar sangue a um outro ser e se dilacerar, nós, mulheres, vamos a vida afora sangrando, mês a mês. Podemos entende a simbologia disso? Não, nem os homens, eles não sangram. Não sagram às mulheres que sangraram por eles. Eles, os homens, jamais, jamais, saberão a cor e a dor do nosso sangue, por mais sensíveis que sejam. Nossa sina é o sangue, é o sentimento, é a paixão, e o amor incondicional que nos dá e toma, que nos leva e devora as vísceras. Quando escrevi Eu também sangro, resisti em publicá-lo, foi feito a um golpe de “pena” de mim mesma. Foi quando recebi o resultado de um exame que somente hoje venho falar dele publicamente. Um nódulo no seio. Quitéria estou rasgando, aqui, minha alma... E o que recebi como consolo acolhimento? Nada, nada... Para aonde uma mulher pode correr senão para si mesmo? De quem eu muito esperava fiquei na chuva, na tempestade de areia. E um touro a minha frente para eu enfrentar... Mas, como diz um amigo meu, um escritor, um poeta escreve sua dor e nunca usa ponto final quando alivia o papel da pena. É isso. Esse texto não teve apreciação de muitos. Não é para ser alcançado, é parte do meu ser. E sempre há a ilusão de quem lê que pode saber o que nos vai à alma.

Se há uma música que eu cantaria para você seria a do Monsueto Menezes: Quero essa Mulher Assim mesmo. Obrigada por sua sensibilidade e comentário sobre o poema “Eu Também Sangrei.” O seu comentário na sua escrivaninha me fez bem mulherzinha e chorei, como diria você: "pra cacetes e pelos buracos! "
Um beijo, Querida. Amo seu Ser.


Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 11/01/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T343494
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