Lavando o Céu
Escapar ao senso comum sempre foi meu desejo.
Observar o firmamento no horizonte do mar era quase atuar nos sonhos.
Ela então chegou num momento em que a auto-crítica se tornava mais evidente. Eu não queria me tornar visível e junto dela isso seria impossível. Parei de olhar o céu . Só ansiava pela chuva.
O dragão dos hormônios se tornou bravio. O rosto dela em minha lembrança perdia foco e por instantes eu a esquecia todos os dias. Mas a roda do tempo a colocou em meus braços numa promessa de nunca mais fugir. Em vida, nessa vida? Acho que não mais...
Tudo bem para meio século de vida. O céu que eu andava precisa de descanso. A chuva lava o éter e minhas lembranças ...
Ela? Ela recorre aos métodos mais exatos e devastadores para no vestido amarelo da dança inesquecível, sabotar meus dias de exílio, sorrindo tal qual Gioconda. Ininterpretável.
Vou sair aí pelo mar raso e deixar meus passos marcar a areia que perde peso na cintura da minha ampulheta intransferível .